Cassia Peralta*
Nunca tantas pessoas, no mundo todo, marcharam preocupadas com os efeitos da mudança climática em suas vidas. Em Nova York não foi diferente. Pouco antes da Semana do Clima da ONU, realizada na semana passada, mais de 1.500 organizações uniram esforços na People’s Climate March. Os manifestantes reivindicavam dos inúmeros chefes de estado reunidos na icônica cidade norte-americana uma ação política pela mudança das condições de vida do ser humano; a construção de um “novo mundo”, no qual os cidadãos e o planeta possam viver em harmonia.
Enquanto eu olhava as fotos das 400 mil pessoas no People’s Climate March descendo a Sexta Avenida em Nova York, me perguntei: Como posso, a cada dia, fazer a minha parte para concretizar esse objetivo?
Cinco anos atrás, na mesma Nova York, a família de Colin Beaven passou um ano vivendo um estilo de vida praticamente sem resíduos, um experimento em busca de impacto-zero, sem efeitos duradouros, sobre o meio ambiente. No final, ficou claro que o comportamento individual pode ser alterado, influenciando a comunidade que nos cerca. Não há melhor caminho para o movimento ambientalista do que viver dentro de limites razoáveis. E foi assim que o Projeto Sem Impacto (No Impact Project) foi formado.
As empresas também podem fazer negócios com menos impacto sobre o meio ambiente. Este ano, duas empresas brasileiras, Natura e a BR Foods, entraram na lista das 100 mais sustentáveis do mundo. A Natura, por exemplo, assumiu em 2007 o compromisso de reduzir em um terço sua emissão de gases de efeito estufa até 2013. Para atingir esse objetivo a ompanhia mediu suas emissões em toda a cadeia de produção – desde a extração de matérias-primas até o uso e descarte de embalagens pós-consumo. O compromisso de trabalhar em uma economia de baixo carbono foi incorporado em todos os processos de tomada de decisões da empresa. Qualquer nova iniciativa é avaliada sob o prisma do benefício socioambiental, desde a geração de empregos para a comunidade local ate a preservação da biodiversidade. Como resultado, a Natura superou a meta de redução de emissões de carbono – a queda foi de 33,2%. A BR Foods também incorporou iniciativas para a redução das emissões em toda a sua cadeia de valor e em suas decisões estratégicas, medindo o impacto desde a logística até as viagens de negócios de seus funcionários.
Outra maneira de ter baixo impacto é começar com pequenos passos, em escala individual. As empresas podem lançar iniciativas que visam não só a pegada de carbono de seus funcionários, mas também a qualidade de vida. Um bom exemplo é a “Semana de Baixo Impacto” do BID, inspirada pela experiência de Colin Beaven. A iniciativa quer promover um estilo de vida mais saudável, promovendo uma mudança de comportamento no dia a dia: andar de bicicleta, tomar banhos mais curtos, levar a própria sacola para o supermercado, ter uma alimentação saudável e até mesmo trocar roupa com amigos em vez de comprar nova… todas essas são maneiras de contribuir para um planeta mais sustentável. Os retornos desse tipo de iniciativa vão muito além dos financeiros, pois no final da semana o prêmio é imaterial: experimentar o bem-estar por ter a felicidade e o privilégio de cuidar do ambiente em que vivemos.
Como disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, “não há ‘plano B’ para agir porque não temos um Planeta B”. As empresas podem e devem ser um catalisador para liderar esta mudança.
* Cassia Peralta é diretora de investimentos (investment officer) do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Seu trabalho é focado na estruturação de investimentos com o setor privado, estimulando o desenvolvimento através da implementação de práticas de negócios sustentáveis. Ela nasceu no Brasil, tem MBA da Wharton School of Business e é autora do premiado livro Born in Rio.
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