Uma estrutura baseada em tokens para financiar projetos com impacto social ou ambiental. Um modelo de classificação de risco de crédito considerando elementos de sustentabilidade e responsabilidade social, que pode ser utilizado por qualquer instituição financeira do mundo. Estes são os temas dos artigos que levaram as duas primeiras colocações no Prêmio BID-SBFin, uma parceria entre o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Sociedade Brasileira de Finanças.
O concurso incentivou o desenvolvimento não apenas de pesquisa acadêmica sobre financiamento e desenvolvimento sustentável, mas também de propostas inovadoras, com soluções implementáveis. A iniciativa está alinhada com o objetivo do BID de investir na geração de conhecimento de vanguarda, para apoiar a formulação de políticas públicas eficazes que ofereçam oportunidades importantes para o desenvolvimento econômico e socioambiental do país.
O artigo vencedor argumenta que a falta de incentivos adequados e o excesso de risco dificultam sobremaneira a popularização de títulos de impacto social, especialmente em mercados emergentes. Os autores Marcelo Guzella, Geraldo Fernandes e Yumi Oki propõem uma estrutura baseada em tokens, ou contratos digitais, para financiar projetos sustentáveis, com características semelhantes àquelas dos títulos de impacto social, porém, conectados a critérios de produção e sustentabilidade.
O artigo propõe que, ao final da maturação do projeto, um verificador independente confirme se sua execução realmente satisfaz os critérios de receita e sustentabilidade. Caso as metas pré-definidas não sejam atingidas, compartilha-se o risco entre os investidores e gestores do projeto. Desta forma, além de mitigar riscos excessivos, o instrumento proposto promove mais transparência ao registrar digitalmente os tokens em tecnologia blockchain. Apesar de os autores tratarem especificamente de uma aplicação para um projeto de extração de própolis em Minas Gerais, a solução tem um caráter mais universal, podendo ser facilmente transplantada e replicada para outras situações pertinentes ao financiamento de projetos sustentáveis.
O segundo lugar coube ao artigo de Rodrigo Zeidan e Seye Onablu, que descreve as etapas necessárias para desenvolver uma plataforma de classificação risco de crédito que leve em consideração elementos de sustentabilidade e responsabilidade social. A inovação do artigo é estender a plataforma fechada de Zeidan et al. (2015), criada para um cliente específico, para um ambiente mais geral, que seja útil para qualquer instituição financeira, em qualquer lugar do mundo. O processo é desafiador, uma vez que o sistema precisa controlar por diferenças de riscos entre países e indústrias, assim como considerar interações entre desempenho financeiro e determinantes socioambientais. A comissão de avaliação considerou que o artigo não apenas reconhece a importância de classificar as iniciativas ESG das firmas, mas também propõe uma solução pragmática e eficaz para que isso ocorra.
Difusão de conhecimento
O primeiro colocado receberá uma premiação de R$ 10 mil e o segundo, de R$ 5 mil. Também será realizado um webinar com os autores dos artigos vencedores e de outros quatro trabalhos que receberam menção honrosa no concurso (veja a lista dos artigos no final deste texto).
Outro destaque para os trabalhos é a disposição do BID em buscar formas de apoiar a implementação das propostas, avaliando sua viabilidade na prática. Ou seja, as ideias podem, de fato, se tornar realidade.
Esta foi a primeira edição do Prêmio BID-SBFin, que teve o objetivo de estimular a discussão sobre assuntos relacionados a financiamento sustentável e desenvolvimento econômico, por meio do incentivo à pesquisa e à elaboração de artigos científicos. A iniciativa também busca promover a difusão de conhecimento financeiro e pesquisa para gestores públicos e instituições da sociedade civil. Outro objetivo é reunir esforços da academia para ampliar o conhecimento sobre questões pertinentes ao financiamento ambiental, social e organizacionalmente responsável, e à busca pela recuperação verde e sustentável da economia nacional, através da inovação no mercado de capitais.
Resultado do prêmio
1º Colocado
“The authentic Bee-Coin: A tokenized financial instrument for revenue-generating projects with social or environmental impact”
Marcelo Guzella, Geraldo Fernandes e Yumi Oki
2º Colocado
“The generalized sustainability credit rating system”
Rodrigo Zeidan e Seye Onabolu
Menções honrosas:
“The impact of ESG momentum in stock prices”
Carolina Sverner, Andrea Minardi e Fernando Tassinari Moraes
“A questão da segurança jurídica no processo de financeirização por meio da securitização por tokenização de certificados das cédulas de produto rural verde e do crédito do carbono”
Elizete Antunes Teixeira Nogueira
“Is replacing standard investments with ESG substitutes a good choice?”
Ricardo Tavares e João Caldeira
“O papel do BNDES na ampliação do financiamento aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS): Lições do edital de blended finance”
Leonardo Pamplona, Marcelo Marcolino, Julio Salarini e Marcos Aurélio do Nascimento de Lima
Para ler a íntegra dos trabalhos vencedores, consulte a edição da Revista Brasileira de Finanças sobre “Financiamento Sustentável e Desenvolvimento.”
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