Desde o surgimento do COVID-19, poucos especialistas foram capazes de prever a magnitude dos impactos econômicos que teria apenas um trimestre depois. Para reduzir esse impacto na população, os governos da América Latina e do Caribe (ALC) desenvolveram várias medidas de apoio para garantir o acesso aos serviços básicos de água, energia e transporte público.
Mas o que acontecia com a capacidade de pagar por esses serviços antes da pandemia? O que acontecerá com os gastos com serviços durante a crise do COVID-19, quando o desemprego aumenta e as fontes de renda de trabalho na região estão reduzidas? Neste blog apresentaremos dados sobre os gastos com serviços de infraestrutura na região que respondem a essas perguntas.
Quanto os gastos com serviços de infraestrutura representam para as famílias de menor renda?
Antes da crise econômica causada pela pandemia, os serviços de água, saneamento, eletricidade e transporte público representavam de 10 a 12% das despesas totais das famílias mais pobres das maiores cidades do Brasil e região.
Gastos com serviços de infraestrutura por quintil de entrada em megacidades da ALC
Fonte: Pesquisas de Gastos Domésticos: 2017 para o Chile, 2018 para Lima e Santiago do Chile, e 2019 para São Paulo (Cavallo, Powell e Serebrisky, 2020)
O que acontecerá com os gastos com serviços de infraestrutura durante a crise associada à chegada do COVID-19?
A redução da atividade econômica está causando uma queda significativa na renda das famílias, especialmente as mais vulneráveis. Uma consequência direta da queda da renda será o aumento da carga de pagamento de serviços sobre a renda familiar mais baixa.
Para ilustrar o problema, realizamos um exercício muito simples no qual se assume uma queda de 30%, 50% e 70% da renda das famílias dos quintis mais pobres. Dadas as restrições à mobilidade devido à imposição de quarentenas, eliminamos as despesas de transporte.
Os resultados desta análise indicam que os gastos com energia elétrica, água potável e saneamento podem representar entre 8 e 30% para as famílias pertencentes ao quintil de menor renda no caso de uma redução de 70% da renda, como mostra a seguir.
Gastos com serviços de infraestrutura (água e eletricidade) para o quintil de renda mais pobre e simulação de gastos diante de uma redução de 30, 50 e 70% de renda durante o COVID-19 nas megacidades de LAC
Fonte: Pesquisas de Gastos Das Famílias: 2017 para o Chile, 2018 para Lima e Santiago do Chile, e 2019 para São Paulo.
O problema da acessibilidade dos serviços é um desafio multidimensional que excede a pandemia atual, mas tornou-se mais agudo durante esta crise. A região enfrenta grandes desafios na garantia de serviços de infraestrutura acessíveis. Cientes desse problema, os governos gastam em média 0,7% do PIB para subsidiá-los.
É importante ressaltar que os dados de gastos de pesquisas domiciliares escondem o consumo reprimido e que o problema da capacidade de pagamento é, portanto, pior do que os números mostram. Sem renda, menos do que é desejável e necessário é consumido.
Os dados de mobilidade ilustram esse problema. Uma análise do uso de meios de transporte por quintil de renda em uma amostra de cidades da região revela que entre 40 e 45% de todas as viagens de pessoas de baixa renda são feitas a pé, enquanto esse número em grupos de alta renda está entre 10 e 20%. Ou seja, as pessoas com renda mais baixa caminham mais porque não podem pagar a quantidade de viagens que gostariam de fazer para atender às suas necessidades de mobilidade.
Os resultados apresentados neste blog mostram que os governos da região estão agindo na direção certa, desenvolvendo medidas de pacote para garantir o acesso e a continuidade dos serviços para todos os cidadãos durante esta crise. Além das decisões que incluem a proibição do corte de oferta, gratuitamente de serviços ou créditos para adiar o pagamento, a pandemia apresenta uma oportunidade única para repensar os mecanismos atuais de subsídios para fornecer serviços de infraestrutura acessíveis para todos hoje e para sempre.
Recomendamos leitura: Do Confinamento à reabertura: Considerações estratégicas para o reinício das atividades na América Latina e no Caribe no âmbito do COVID-19
O post “Gastos domésticos na região” é o primeiro de uma série de postagens intitulada “Serviços acessíveis para todos em tempos de coronavírus (e sempre)” focado em mostrar como a crise relacionada ao COVID-19 afeta tanto os provedores quanto os usuários dos serviços de eletricidade, transporte e água potável e saneamento na região.
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