Não há dúvidas sobre os impactos negativos da COVID-19 sobre a geração que sai da infância e inicia a vida adulta. Em meio às inúmeras dificuldades decorrentes do novo coronavirus, a pandemia elevou a fatia de jovens “nem-nem”, ou seja, aqueles com idade entre 15 e 29 anos que não trabalham nem estudam, ao maior patamar histórico no Brasil: quase 30% ao final de 2020. Além disso, pesquisas indicam que 70% dos jovens brasileiros têm dificuldade para encontrar trabalho.
Para aqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade social, os desafios se somam a um cenário repleto de obstáculos que se tornam ainda mais significativos quando se pensa em medidas de desenvolvimento da juventude. Fato é que na hora de elaborar programas voltados para esta população, é essencial levar em consideração medidas afirmativas, tendo a diversidade de gênero, de raça e de etnia como elemento transversal.
Por isso, neste Dia Internacional da Juventude (12 de agosto), trazemos um exemplo de um programa que trabalha com os jovens a partir de uma perspectiva integral, respeitosa e inclusiva.
Mas como fazer isso na prática?
Na capital do Ceará, o Programa Bolsa Jovem, realizado pela Coordenadoria Especial de Políticas Públicas de Juventude da Prefeitura de Fortaleza com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), tem justamente a diversidade como uma de suas marcas. Dos 3 mil jovens selecionados este mês para participar do programa, há 37 homens e mulheres trans; 230 com gênero não definido ou não informado; e 110 pessoas com deficiência.
Com o objetivo de reduzir as desigualdades e promover a inclusão juvenil, ao longo de um ano, o programa oferece formação e concede bolsa de R$ 300,00 aos jovens espalhados pelas 12 regionais de Fortaleza e possuem entre 15 e 29 anos. Atualmente na segunda edição, o programa Bolsa Jovem ampliou sua atuação, passando de três eixos para nove:
- Arte e Cultura – com atividades em Artes Visuais, Audiovisual, Circo, Cultura tradicional e popular, Dança, Fotografia, Humor, Literatura, Música e Teatro.
- Cidadania e Participação Social – trabalha com Direitos Humanos, Direitos das Minorias, diversidade, Grêmios, Centros Acadêmicos, Diretório Acadêmico, Inclusão, Liderança Social e Comunitária, Protagonismo Juvenil.
- Ciência, Educação e Tecnologia – promove debates Acadêmicos, desenvolvimento de softwares, E- Games, pesquisa Acadêmica e/ ou escolar, robótica.
- Comunicação – que tem como foco Jornalismo, Podcast, Produção Gráfica, Produção Multimídia (Blogs, redes sociais, canais de vídeo etc) e Publicidade e Propaganda.
- Comunidades e Povos Tradicionais – abarca atividades relativas a Povos Indígenas, Integrantes de Circos de Lona, Quilombolas, Ciganos, Povos do Mar, Comunidade Tradicional de Matriz Africana, Povos de Terreiros, Comunidades Tradicionais de Extrativistas e/ou Ribeirinhos.
- Práticas Recreativas e Lazer – oferece atividades lúdicas e de recreação ou lazer
- Meio Ambiente e Sustentabilidade – que promove capacitações e atividades em educação ambiental, projetos sustentáveis e causa animal.
- Saúde e Bem-Estar – Práticas Holísticas, Promoção de Saúde Física e Mental e Redução de Danos
- Economia Criativa e Empreendedorismo – Artesanato, Design, Escultura, Edição de Livros e Publicações, Moda, Pintura, Gastronomia, Empreendedorismo Social, Empreendedorismo Cultural, Economia Colaborativa e Turismo.
Além de garantir a integridade da atenção à saúde – especialmente durante uma crise sanitária, o projeto considera também a implementação de mecanismos de desenvolvimento pleno dos jovens, que abrangem capacitações, atividades esportivas e culturais, bem como práticas focadas em sustentabilidade e empreendedorismo.
Quais as vantagens de ter a diversidade como um dos critérios de seleção?
A América Latina é uma das regiões mais etnicamente e racialmente diversas do mundo. Além disso, há cada vez mais evidências de que as empresas mais diversas em termos de raça, etnia e gênero são também as mais inovadoras, mais produtivas e geram maiores lucros. Veja os resultados de pesquisas recentes sobre o tema:
- De acordo com o último estudo da McKinsey (2020a), que reúne mais de 1.000 empresas em 15 países, empresas com maior diversidade de gênero e etnia em suas equipes de gestão têm, respectivamente, 25% e 36% mais chances de superar o desempenho financeiro médio do que as empresas menos diversas.
- Em um estudo com 245 empresas que operam globalmente, a Deloitte (2017) descobriu que empresas com culturas inclusivas são seis vezes mais inovadoras, seis vezes mais ágeis e duas vezes mais propensas a atingir ou superar suas metas financeiras.
- A inclusão de vagas com foco em diversidade ajuda também a reduzir o preconceito, a discriminação e a violência contra as pessoas, contribuindo para aumentar sua visibilidade e inclusão social.
Preparar os jovens para a transição entre a escola e o mercado de trabalho, estimulando sua criatividade e potencial humano, passa também por considerar e respeitar suas escolhas. Como resultado, aliando diversidade e inclusão, poderemos construir um crescimento econômico mais virtuoso, sustentável e inclusivo.
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