Túlio Cravo e Rodrigo Quintana*
Parafraseando o filósofo e poeta espanhol, Jorge Santayana, quem não estuda sua história está condenado a repeti-la. Essa máxima vale para entender o mercado de trabalho de hoje. Não se pode antecipar seu futuro sem antes aprender sobre o seu passado.
Em encontro recente da Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia (ANPEC) pesquisadores discutiam o impacto da recessão e das políticas de emprego no mercado de trabalho brasileiro. Entre as várias questões que surgiram nos debates, uma chamou a atenção. Se a recessão acabou e o país está voltando a crescer, por que a retomada do emprego continua tímida?
No BID, compreender melhor a situação de milhões de trabalhadores brasileiros é tarefa da divisão de Mercado de Trabalho, que no encontro apresentou os temas de pesquisas que vão constituir um livro sobre as dinâmicas de trabalho durante ciclos econômicos e sobre a avaliação de políticas públicas de emprego.
Para entender os tempos de mudança, o estudo começará por destilar como o perfil de empregos no Brasil tem se transformado em termos de modalidade (de carteira assinada a trabalhadores autônomos), de setor (da indústria a serviços), e de localização (de uma região a outra). Uma vez analisado o perfil dos postos de trabalho, será possível saber quem entrou e saiu do mercado, e para onde transitaram os trabalhadores segundo suas características socioeconômicas.
As políticas de emprego estão preparadas para os desafios?
Os debates continuam em 2018 e as expectativas são cada vez maiores quando o assunto é emprego. A mídia local recentemente chegou a questionar a relevância do Ministério do Trabalho. Porém, para contestar a relevância ou não de um ministério, o ponto de partida é avaliar a efetividade de suas políticas. Nesse sentido, a publicação avaliará as principais políticas do Ministério do Trabalho e de outros órgãos públicos orientados a fortalecer o mercado de trabalho.
No âmbito das empresas, queremos entender se os programas de subsídios salariais salvaram postos de trabalho durante a recessão, se a simplificação de impostos das pequenas empresas incentivou a formalização, e se o acesso ao crédito e apoio na gestão permitiram que as pequenas e médias empresas emergissem.
Do ponto de vista do trabalhador, vamos analisar se eventuais mudanças nas regras do seguro-desemprego incentivam os trabalhadores a buscarem emprego, e se o programa de intermediação os ajuda a encontrá-los.
Uma das grandes apostas para melhorar a empregabilidade é a educação. Por isso, o livro também questionará se as políticas de alfabetização têm efeitos na empregabilidade dos grupos mais vulneráveis, e se a demanda por capacitações para os funcionários das empresas faz com que fiquem por mais tempo em seus empregos.
Reformando a casa
No ano passado foi aprovada a reforma trabalhista no Brasil. Muitos comemoraram a medida, e ainda que seus efeitos imediatos não sejam conhecidos, começam a surgir os primeiros sinais de criação de empregos utilizando as novas regras. Outros alertavam sobre os riscos da qualidade dos empregos criados. Se depois da tormenta geralmente vem a calmaria, e se esta vem traduzida em mais e melhores empregos, este é um debate que esse livro tentará incentivar.
*Túlio Cravo é especialista da divisão de Mercado de Trabalho do BID no Brasil. É graduado em economia pela UFMG, possui mestrado pela Universidade de Coimbra e doutorado pela Loughborough University. Também trabalhou na Universidade das Nações Unidas (UNU-WIDER) na Finlândia, Escritório de Avaliação e Supervisão do BID em Washington e SEBRAE/MG.
*Rodrigo Quintana é consultor da divisão de Mercado de Trabalho do BID. Possui mestrado em Administração Pública pela Universidade de Harvard e é graduado em Economia pela Universidade de McGill. Também trabalhou nas unidades de proteção social do Programa Mundial de Alimentação no Paquistão e em Moçambique, e do Banco Mundial, em Washington D.C.
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