O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a União Internacional de Telecomunicações (UIT) apresentaram recentemente a primeira ferramenta de mapeamento regional e análise de dados para a conectividade digital em 26 países da América Latina e do Caribe. A ferramenta, chamada plataforma ConectaLAC, ajudará governos e investidores a identificar brechas na conectividade digital e a desenhar projetos custo-efetivos para fechar essas lacunas em toda a região.
A plataforma permitirá a investidores e formuladores de políticas mapearem populações específicas, instituições e setores que não têm acesso à conectividade, seja em nível nacional ou regional. Permitirá ainda que os usuários desenhem projetos de conectividade para abordar as lacunas digitais tendo em conta fatores geográficos e infraestruturas de telecomunicações existentes. E proporcionará informação que pode ser utilizada para criar Centros Digitais Regionais e identificar possíveis locais para novos cabos submarinos.
O lançamento da plataforma busca aprofundar a discussão sobre como as políticas públicas e regulações específicas sobre conectividade digital, incluindo Fundos de Serviço Universal, a gestão do espectro e o uso compartilhado de infraestruturas podem oferecer a competência e acelerar a implementação de uma infraestrutura digital sustentável. Da mesma forma, como ferramenta prática, permitirá ao BID ajudar os países a desenhar planos nacionais de conectividade de maneira mais efetiva e rentável.
Por que isso importa? E no que se diferencia de iniciativas anteriores baseadas em dados?
Como em outros mercados, as assimetrias de informação também estão presentes quando se trata de conectividade. Neste sentido, a plataforma será especialmente útil para os países que buscam aumentar a conectividade em um momento em que enfrentam um triplo desafio, que inclui demandas sociais crescentes, restrições fiscais e um lento crescimento que limita a capacidade dos governos de gerar recursos adicionais. Dada a escassez de recursos, os governos devem alocar os fundos públicos com base na melhor e mais rigorosa evidência disponível. Isso deve ocorrer especialmente quando se trata de conectividade, devido à importância da “lógica de rede” no setor digital.
Por exemplo, para conectar escolas, hospitais e outros serviços sociais, devemos ser capazes de identificar formas de integrar essas conexões a uma lógica de rede que garanta escala e adaptabilidade. O ConectaLAC proporcionará dados detalhados sobre localizações ótimas para instalar infraestruturas críticas com base em um cálculo que ajuda os responsáveis pela tomada de decisão a determinar o valor socioeconômico de cada dólar investido. Isso poderá ajudar a melhorar imediatamente o impacto da alocação de recursos em ambientes que antes enfrentavam obstáculos devido a assimetrias de informação.
Certamente outras tentativas foram realizadas para compartilhar esse tipo de dado, mas o ConectaLAC é único porque se baseia em uma comunidade de prática que converterá a informação em um bem público regional facilmente disponível para todas as partes interessadas nas comunidades e nos países. Acreditamos que isso levará a uma melhor prestação de contas em toda a região. Os provedores terão uma melhor evidência de que seus investimentos alcançarão mais pessoas e os cidadãos poderão exigir dos provedores serviços de boa qualidade.
Para isso, o ConectaLAC conta com uma ferramenta de visualização que estima o impacto associado a diferentes projetos de conectividade. A ferramenta, que deve ter uma versão disponível para o público até o final deste ano, pode facilitar o envolvimento da sociedade civil e outras partes interessadas durante o desenho e a implementação de projetos.
A infraestrutura pública digital foi identificada como um acelerador dos objetivos de desenvolvimento sustentável na Declaração dos Líderes do G20 e como alta prioridade pelo secretário-geral da ONU. Segundo a recém-publicada Agenda de Aceleração Digital dos ODS (SDG Digital Acceleration Agenda), uma análise global realizada por UIT, BID e o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), cerca de 2,6 bilhões de pessoas, ou 33% da população mundial, têm acesso limitado ou não têm acesso à internet. O relatório estima que os países precisam investir aproximadamente US$ 400 bilhões para fechar essa brecha e alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável. A análise também calculou que, na América Latina e no Caribe, 280 milhões de pessoas têm acesso limitado ou não têm acesso à internet, e que a região precisará de investimentos estimados em US$ 108 bilhões para fechar essa lacuna.
O ConectaLAC está pronto para ajudar os governos a garantir que esse trabalho vital seja realizado o quanto antes e com o melhor uso possível de recursos públicos. Esperamos que esta plataforma contribua para uma mudança fundamental no paradigma e que acelere o processo para que os ODS sejam alcançados nos próximos anos.
Por Ilan Goldfajn, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, e Susana Cordeiro Guerra, gerente do Setor de Instituições para o Desenvolvimento no Banco Interamericano de Desenvolvimento.
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