Desde 2011, o Fórum Econômico Mundial vem sinalizando em seu relatório de riscos globais uma crescente preocupação com potenciais crises e conflitos locais e globais diante do impacto e probabilidade de riscos ambientais. Essa análise é corroborada pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), entidade baseada na Suíça e considerada “o banco central dos bancos centrais”, que alerta para uma nova possível crise financeira global a partir da mudança climática.
Essas preocupações, somadas à pandemia do coronavírus, só tendem a se intensificar, e são resultado de um conjunto de impactos cada dia mais visíveis e que exigem respostas objetivas e contundentes, seja para conter efeitos já percebidos, como o aquecimento global, como para permitir aos governos, às empresas e à sociedade uma adaptação planejada e inteligente capaz de fazer frente a esse panorama desafiador e complexo. Especialmente hoje, no Dia da Terra, acreditamos que esta é a razão fundamental para que as instituições e outros integrantes dos mercados financeiros e de capitais concentrem esforços na elaboração de estratégias para viabilizar um crescimento econômico compatível com a sustentabilidade ambiental, social e econômica que, em última instância, garantirá o bem-estar social e o equilíbrio do sistema financeiro global.
O sistema financeiro é peça importante no que se refere ao financiamento e ao crescimento econômico, de modo que os bancos pertencentes a esse sistema não se limitam apenas a serem intermediadores financeiros. Eles contribuem, sobretudo, em momentos de expansão econômica, cujo crédito fornecido coopera para com o modelo de desenvolvimento do país, ou em momentos de crise humanitária, como a que estamos vivendo.
Não por acaso, os reguladores vêm induzindo os agentes do setor financeiro a criarem metodologias para mensurar os riscos socioambientais em sua atuação, com destaque para os climáticos. Dentre eles, destacamos a proatividade do Bacen em lançar o Edital de Audiência Pública 41, em 2012, resultando na Resolução CMN nº 4.327/2014, e da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), com a sua autorregulação SARB 14/2014. Mais recentemente, iniciativas como a Força-Tarefa Sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima (TCFD – sigla em inglês) e dos Princípios de Responsabilidade Bancária (PRB) vieram ao encontro das demandas dos reguladores e investidores. Consequentemente, essas medidas proporcionam uma melhor avaliação dos potenciais riscos, fomentando modelos de desenvolvimento econômico mais eficientes quanto ao uso dos recursos naturais e produzindo, sobretudo, atividades mais longevas e resilientes sob os aspectos econômico e financeiro.
Em síntese, o sistema financeiro pode e deve colaborar no processo de indução para que as atividades produtivas priorizem o uso eficiente dos recursos naturais, contribuindo para a conservação da biodiversidade, floresta, recursos hídricos e clima, bem como para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS.
Como o BID contribuiu para que o Banco do Brasil esteja entre as 100 corporações mais sustentáveis do mundo
Somando-se aos esforços de instituições em todo o mundo que vêm readequando seus processos e práticas no contexto das atuais demandas ambientais, o Banco do Brasil (BB) tem buscado otimizar seus resultados sustentáveis alinhados à sua estratégia empresarial. As ações que vem realizando neste tipo de iniciativa tem uma história de 25 anos, que começou com a implementação do Protocolo Verde em 1995. Nove anos mais tarde, o BB estabeleceu sua primeira agenda de metas sustentáveis, que foi atualizada em 2017 com a criação da “Agenda 30 BB – Plano de Sustentabilidade”, documento que integra as propostas de soluções financeiras e modelos de negócios para promover uma transição rumo à economia verde, sustentável e inclusiva, elaborada para o período 2019-2021 e sob a ótica dos ODS.
As políticas e ações em sustentabilidade do Banco do Brasil colocaram a instituição em posição de vanguardismo, resultando-lhe a nona posição entre as 100 Corporações Mais Sustentáveis do Mundo, em 2020. É a única empresa financeira da América Latina a conquistar esse título, reconhecimento outorgado no final de janeiro deste ano pela Corporate Knights no Ranking Global 100 e divulgado no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. Em 2019, o BB foi listado na carteira global do Índice Dow Jones de Sustentabilidade (DJSI) da Bolsa de Nova Iorque, que reúne as empresas com as melhores práticas de sustentabilidade de todo o mundo e manteve-se no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), pelo décimo quinto ano consecutivo.
A materialização desse trabalho só foi possível a partir da implementação das ações do Plano de Sustentabilidade Agenda 30 BB e do acompanhamento do tema pela alta administração do Banco, associados ao processo de consulta às partes interessadas e de iniciativas de cooperação técnica e financeira com agências multilaterais, governo, setor privado e terceiro setor. Tal sinergia pode ser a chave para acolher e conciliar diferentes visões, interesses e criar capacidades e práticas.
Nesse contexto, destaca-se a parceria firmada entre o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco do Brasil, em dezembro de 2017. O BID, sendo a maior fonte multilateral de financiamento para a região da América Latina e Caribe, e entidade responsável em promover o desenvolvimento sustentável para melhorar a qualidade na região, vem apoiando o setor público por meio de financiamento de projetos sustentáveis para potencializar o desenvolvimento social e ambiental nessas regiões.
No âmbito da parceria, o BID contribuiu com a revisão da Agenda 30 BB – Plano de Sustentabilidade do Banco, por meio de eventos regionais ocorridos em Brasília, Lima e Cidade do México, e pelo desenvolvimento de estudos e de modelos de negócios sobre oportunidades de financiamento e de investimento verde. O apoio financeiro ocorreu por meio de um fundo do International Climate Initiative (IKI) do Ministério Federal de Meio Ambiente, Proteção o da Natureza, Construção e Segurança Nuclear da Alemanha em que o Banco do Brasil é beneficiário.
A experiência do BB evidencia que a gestão empresarial alinhada à cooperação pode apresentar inúmeros benefícios ambientais e climáticos, abrindo oportunidades no crescimento do mercado de títulos verdes – os quais visam fomentar a eficiência energética em edifícios, energia limpa, transporte com baixa emissão de carbono, manejo de resíduos, etc.
O conjunto dessas ações dá visibilidade não apenas a esses projetos, mas às instituições que os financiam – e que passam a impactar positivamente na reputação no mercado nacional e internacional. Isso é importante para impulsionar a inovação em produtos e serviços de crédito sustentáveis, especialmente em regiões com alto potencial para esse tipo de iniciativa, como é o caso do Brasil.
Há amplo espaço para o sistema financeiro ser mais atuante no combate à mudança climática e na transição para uma nova economia. A mudança começa de dentro para fora e a colaboração com outros atores é fundamental.
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