Buscar formas de recuperar o setor do turismo dos fortes impactos da pandemia de COVID-19 foi uma preocupação presente nos estudos realizados, ainda em 2020, por meio da cooperação técnica entre o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Secretaria Estadual de Turismo de São Paulo (SETUR). O foco inicial do trabalho estava em consolidar estratégias de aceleração, considerando não só a possibilidade de reconversão para dinâmicas mais sustentáveis de desenvolvimento turístico, como a adoção de uma matriz de tomada de decisão que permitisse priorizar ações.
Foram usados como referencial o modelo de gestão de crises no turismo proposto por Faulkner, além de orientações estabelecidas em nível internacional para a gestão específica da crise causada pela pandemia de Covid-19, tanto pela Organização Mundial do Turismo como pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Estes referenciais permitiram que fosse feita uma leitura da situação e um desenho das recomendações que seriam discutidas durante a elaboração do plano de retomada.
O plano foi elaborado com base na análise de problemas, definição de estratégias e projetos (PEP), contando com o apoio da matriz de priorização Gravidade-Urgência-Tendência (GUT).
Em termos práticos, os passos adotados foram:
Respostas adotadas na fase emergencial e recomendações propostas para as etapas de retomada e resolução
Na fase emergencial, o Estado de São Paulo adotou medidas de acordo com as recomendações internacionais para: biossegurança dos profissionais do setor e dos turistas; monitoramento do desempenho do turismo para apoiar a tomada de decisões em curto e médio prazos; adequação de ações de comunicação e promoção de destinos, considerando a reconfiguração de fluxos; suporte à manutenção do emprego e renda. Além disso, com base no Plano Estratégico de Turismo SP 2030, elaborado antes da pandemia, o Estado propôs a estruturação de novos produtos e a consolidação das bases de desenvolvimento de territórios-chave para o turismo, a partir de um olhar regional.
Mesmo com essas medidas, o estudo identificou desafios e apontou estratégias para enfrentá-los, com o intuito de assegurar um desenvolvimento a partir de bases mais resilientes em médio e longo prazos. As estratégias incluem o fortalecimento da gestão e da governança estadual do turismo e a dinamização do planejamento para integração, sustentabilidade e competitividade do setor.
O desafio de uma gestão continuada, para além da crise
A cooperação entre o BID e a SETUR teve um enfoque mais pragmático na aceleração da retomada pós-pandemia. Mas há um desafio no turismo que é estabelecer uma gestão permanente focada no aprendizado contínuo, em que a gestão de riscos, vulnerabilidades, crises e desastres sejam aspectos efetivamente incorporados.
Alertas sobre a importância de lidar com a teoria da complexidade e do caos vêm sendo incentivadas no âmbito da gestão de destinos desde as primeiras discussões sobre sustentabilidade no turismo na década de 90. Eventos críticos dos anos 2000 como tsunamis, doenças, terrorismo e, especialmente, a crise econômica de 2008, impulsionaram em grande parte a discussão sobre gestão de crises e desastres no turismo.
A partir de 2018, a Organização Mundial do Turismo passou a sugerir que fossem incorporadas reflexões sobre padrões de produção e consumo responsáveis em políticas públicas, e a instituição The Travel Foundation, em parceria com o Centro para a Sustentabilidade Global de Empresas da Universidade Cornell e a empresa EplerWood International, publicou um estudo sobre a “carga invisível do turismo”, destacando os inúmeros riscos em função de custos não contabilizados ou geridos em decorrência da atividade turística nos destinos.
Não só a pandemia causada pela Covid-19, um evento extremo e imprevisível, como a pauta mais do que urgente relacionada às mudanças climáticas, reforçaram a importância de questões como: estamos encarando o turismo como um sistema complexo, que deve se adaptar de modo constante? Estamos cientes das vulnerabilidades e riscos que afetam a atividade, sejam elas causadas por crises ou desastres de diversas ordens? Temos conhecimento técnico e emocional para reconhecer que vivemos em um mundo de rápidas mudanças, que podem alterar completamente a forma como nos conectamos e fazemos turismo? Estamos preparados para gerir isso de forma continuada?
Fica evidente para os governos e para a governança de destinos que não basta ter respostas imediatas, mas saber lidar com este tipo de situação de modo sistêmico em função dos impactos negativos das crises já enfrentadas e do potencial de novas crises, riscos e desastres de todas as ordens serem cada vez mais constantes no mundo.
O estudo completo resultante da parceria está disponível neste link.
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