A pandemia colocou o setor de turismo à prova, com uma crise de demanda nunca vista e com perspectivas difusas de se dissolver. Mas é possível dizer também que esse turbulento período gerou uma janela de oportunidades para o setor, que pôde parar para repensar práticas e modelos de desenvolvimento de negócios e destinos. E esse processo de repensar não pode ser conduzido sem atrelar o desenvolvimento de novos modelos a respostas mais adequadas a futuras crises, sejam elas sanitárias, novamente, ou climáticas, econômicas, ligadas a desastres naturais, entre outras. O turismo vem provando sua resiliência às crises, mas ainda precisa avançar em como estabelecer ferramentas práticas que permitam a gestores de destinos e de negócios lidar com essas crises – antes, durante e depois delas.
O episódio dessa semana de Caminhos para o Turismo contou com a presença de Bruno Reis, Diretor Presidente da Emprotur (Empresa Potiguar de Promoção Turística), e de Leonardo Nogueira de Moraes, Pesquisador de Pós-Doutorado em Turismo, Resiliência e Planejamento Urbano e Regional da Universidade de Melbourne, Austrália, para conversar sobre como o setor pode melhor se preparar para gerenciar crises futuras e ser mais resiliente – e o que essa crise atual nos ensinou. Com casos práticos brasileiros e internacionais, eles tocaram esse tema espinhoso numa conversa leve e esclarecedora – não deixe de ouvi-la em nosso canal do Soundcloud. Resumimos aqui algumas das boas práticas e recomendações que surgiram no episódio:
Os 3 eixos fundamentais dos ciclos dos desastres
Uma abordagem bastante comum nos planos australianos para a gestão de crises encara os chamados ciclos do desastre. Em linhas gerais, esses ciclos incluem o antes, o durante e o depois das crises geradas por desastres. Pensa-se inicialmente no preparo, ou seja, como o destino, localidade ou negócio se prepara para lidar com uma crise (de diferentes características) e ações associadas a colocar esse preparo em prática. Também se identificam as respostas necessárias no momento da crise, sua capacidade de conseguir responder de forma eficaz à ela quando vivida no momento, por meio de arranjos e parcerias variados. E, por fim, considera-se também a recuperação, a capacidade de conseguir se recuperar, uma vez passado o pior da crise, alcançando-se a tal almejada resiliência, que nada mais é do que a capacidade de se recuperar e voltar à estabilidade de uma forma mais forte e sustentável.
Governança e parcerias são partes essenciais da gestão de crises
O conhecimento prático dos convidados mostra como as parcerias entre atores do setor público, privado, terceiro setor, turistas e comunidade local são essenciais para uma gestão de crises exitosa. Todos os atores devem estar envolvidos nas etapas de preparação para crises, estabelecendo as políticas públicas e planos que permitirão seu enfrentamento, mas também são chave importante no momento de resposta e têm cada um o seu papel. Alguns dos exemplos compartilhados incluem como moradores locais podem ser essenciais para indicar rotas de fuga em locais mais remotos; como associações de empreendimentos turísticos são chave na implementação de protocolos de segurança sanitária coesos em um destino; e, como diferentes esferas do setor público precisam dialogar para ter uma adequada capacidade de resposta, que atenda a diversos setores da sociedade.
A importância da comunicação
A comunicação é uma peça-chave quando se fala em gestão de riscos, seja a comunicação dirigida ao público diretamente afetado pela crise, seja aquela que pensa no posicionamento de imagem dos destinos, por exemplo. Entender expectativas e o que o turista mais valoriza foi crucial na definição da estratégia de comunicação – e de atuação – do destino Rio Grande do Norte quando da eclosão da pandemia em 2020. Por meio de dados de mercado recentes e variados, o destino pôde concluir que o turista-alvo deles valorizava muito mais a segurança no destino do que aspectos associados a seus atributos naturais – como isolamento, natureza e outras grandes tendências que emergiram na pandemia. Com isso, puderam trabalhar para se posicionar como um dos destinos mais seguros do país, o que uniu tanto esforços de comunicação, como o desenvolvimento e implementação de protocolos sanitários adequados e consistentes em todos os destinos do estado.
Para quem quiser saber mais sobre resiliência no turismo, acesse esses links:
Resiliência no turismo: aprendendo com experiências de gestão de crises, Blog IDEACÃO, do BID
Plano Nacional de Resposta a Desastres do Governo Australiano (COMDISPLAN)
Disasters, Planning and Australian Tourism, artigo de Leonardo Moraes e Alan March
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