Shain Shapiro*
Muitas cidades têm encontrado na música um caminho para cumprir alguns de seus objetivos socioeconômicos, além dos especificamente culturais. Por exemplo, Austin (Texas, USA) ou Adelaida (Austrália) tem se proclamado cidades musicais e tem desenvolvido estratégias inovadoras e criativas para potencializar as possibilidades que o setor musical oferece.
Outras cidades e organizações tem seguido este exemplo, convertendo a música em um eixo de progresso em todo o mundo:
Amsterdã foi a primeira cidade a escolher um prefeito noturno, uma figura responsável por coordenar e potencializar a atividade noturna e o cenário musical da capital holandesa.
Em Nova York, o prefeito Bill de Blasio anunciou no ano passado um plano para construir casas de baixo custo para músicos e artistas, com a intenção de preservar este setor que tem grandes contribuições para a cidade.
Na África do Sul, a organização Bridges for Music usa a música como um meio para a integração social e para criar consciência sobre problemas de desenvolvimento.
No Reino Unido, UK Music produz informes anuais sobre o impacto do turismo musical na economia do país.
Em 2004, a UNESCO criou a Rede de Cidades Criativas com o objetivo de promover a cooperação internacional entre cidades que veem a criatividade como uma fonte de desenvolvimento e progresso urbano sustentável, assim como um meio para a integração social na preservação da diversidade cultural. Desde então, cerca de 20 cidades tem sido nomeadas cidades musicais pela UNESCO, entre elas Bogotá, Medellín, Kingston e Salvador, na Bahia.
Bogotá foi a quinta cidade e a primeira na América Latina a fazer parte desta rede. Em uma cidade com um cenário musical tão ativo e próspero, esta nomeação promoveu um esforço maior na criação e implementação de políticas dedicadas a colocar a música no centro da vida da cidade. Com o objetivo de gerar um sentimento de pertencimento e criar maior diálogo intercultural, Bogotá tem desenvolvido e realizado uma série de políticas públicas, conseguindo superar alguns de seus desafios utilizando a música como ferramenta de transformação social.
Um exemplo destas políticas é o Plano Distrital de Música, criado com a colaboração de vários agentes dos setores público e privado. Este plano é fixado em temas como formação, criação de circuitos musicais e a defesa dos espaços dedicados à música ao vivo. Entre as medidas tomadas a partir do plano se destaca a criação, em fevereiro de 2015, do Cluster da Música de Bogotá para reforçar os pilares estratégicos que afetam diretamente a competitividade da indústria: pesquisa, desenvolvimento e inovação, promoção e mercado, regulamentação e talento humano; buscando deste modo converter a cidade no principal centro de negócios da música na América Latina.
O que as cidades latino-americanas podem fazer para promover seu desenvolvimento através da música?
Como Bogotá, outras cidades da região também podem desenvolver estratégias para alavancar sua indústria musical, e somar-se ao movimento global para fazer da música um aliado do desenvolvimento.
Sob este lema “uma indústria musical forte e sustentável é o caminho mais eficiente e econômico para construir, manter e expandir cidades vibrantes e economicamente prósperas,” em 2015 nasceu o Music Cities Convention: um evento criado pela consultora Sound Diplomacy e por Martin Elbourne—co-fundador dos festivais como The Great Escape e WOMAD—com o objetivo de reunir periodicamente representantes de governos locais, legisladores, acadêmicos, agentes da indústria musical e urbanistas para analisar o papel da indústria musical como ferramenta para:
– A criação de emprego;
– O aumento da arrecadação sem aumentar os impostos;
– A racionalização e promoção do transporte público;
– A gestão do turismo;
– A recuperação urbanística;
– A retenção e atração de talento e investimentos;
– A integração social ou o uso, além da racionalização das infraestruturas urbanas.
Desde sua primeira edição em Brighton, Inglaterra, em 2015, a convenção já celebrou uma segunda edição em Washington D.C e se prepara para um terceiro encontro na cidade de Brighton em 18 de maio. Esta nova ediçãoreunirá profissionais e pensadores como Carlos Chirinos, professor da NYU e compositor da canção “África Stop Ebola” para conscientizar e educar a população da Guiné sobre esta doença; Mirik Milan, Prefeito Noturno de Amsterdã, e Eddie Bridgeman, diretor de Meanwhile Space, entre outros.
Convidamos você a conhecer todos os detalhes sobre o Music Cities Convention e sobre como sua cidade pode potencializar os benefícios de seu cenário musical, clique aqui.
Post publicado originalmente no blog do BID, Ciudades Sostenibles
Shain Shapiro é o fundador e Managing Director da Sound Diplomacy, empresa líder em assessoria de governos locais, nacionais e regionais no desenvolvimento de políticas relacionadas à indústria musical. A Sound Diplomacy trabalha com mais de 75 clientes em 130 cidades a nível mundial. Desde esta posição, Shain tem sido fundamental no desenvolvimento de festivais em 10 cidades, é co-autor de diversos relatórios abrangentes para Arts Council England, Sound and Music e Music Nova Scotia, também é autor de um curso online para Berklee College School of Music, além de participar de conferências e dar aulas na América, Europa e África. Também é co-fundador do Music Cities Convention, a primeira conferência dedicada a indústria musical e as cidades. Também trabalhou no desenvolvimento de Momentum Music Fund na Inglaterra e é consultor do Arts Council Wales, Adam Mickiewicz Institute Poland, Israel Music Export e mais de uma dúzia de governos e instituições. Shain tem doutorado pela Birkbeck, Universidade de Londres e esteve no Top 10 da lista h100 da Creative Entrepreneurs in Britain do British Council. Originário de Toronto, Shain vive em Londres e é fanático por cidades, políticas urbanas, e uso dos espaços urbanos, além de comida.
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