A primeira cesárea dos tempos modernos foi realizada em 1881 pelo ginecologista alemão Ferdinand Adolf Kehrer. Recomendada quando há riscos evidentes para a mãe e/ou bebê – como em casos de gestações múltiplas ou quando a gestante é portadora de doenças sexualmente transmissíveis como a Aids -, a cesárea ajuda a salvar vidas. Fora desses contextos, porém, o procedimento não apenas é desnecessário como ainda traz riscos à saúde de futuras mamães e filhinhos.
No Brasil, o número de cesarianas é tão elevado – estima-se que 84% dos partos realizados na rede particular sejam cirúrgicos – que o país é o campeão mundial dessa modalidade. O Ministério da Saúde (MS) e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) acabam de anunciar resoluções, que agora entram em consulta pública, para estimular o aumento do número de partos normal. Entre elas estão um maior acesso a informações por parte das mulheres, grávidas ou não. Elas devem poder conhecer a taxa de cesarianas realizadas por médico/hospital. As novas normas devem entrar em vigor em dezembro. As operadoras de planos de saúde também deverão passar a distribuir o Cartão da Gestante, uma ferramenta para registro de consultas e orientações.
As autoridades de saúde pública acreditam que é preciso promover uma mudança de cultura para que o número de cesarianas fique dentro do aceitável – 15% do total de partos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. (OMS). Mas o que explica um número tão elevado de partos cirúrgicos? Entre os principais motivos estão desde maior remuneração para médicos e hospitais que realizam as cesáreas, já que é possível marcar vários procedimentos num mesmo dia, medo da dor do parto normal e muita desinformação. Estudos comprovariam que mulheres que começam a gestação determinadas a terem parto normal são levadas a mudar de opinião ao longo da gravidez.
O medo da dor ao dar à luz é usado para promover a cesárea, que, na verdade, quando realizada sem indicação médica aumenta em 120 vezes a probabilidade de problemas respiratórios para o recém-nascido e triplica o risco de morte da mãe, segundo o MS. Além disso, 90% das mulheres que já passaram por uma cesárea acabam passando pelo procedimento outra vez quando engravidam de novo. Isso é um problema porque, de acordo com especialistas em saúde neonatal, quanto mais cesáreas maiores os riscos durante a gravidez, entre os quais problemas com a placenta, hemorragia e necessidade de remoção do útero.
Na hora certa, cesarianas podem salvar vidas. Nos momentos errados, porém, provocam problemas que poderiam ser evitados.
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