O turismo é um dos setores da economia que vem crescendo com mais velocidade em todo o mundo, e no Brasil não pode ficar para trás! O peso da atividade na economia nacional ainda não atingiu seu pleno potencial, principalmente considerando que segundo ranking de competitividade elaborado pelo World Economic Forum o país se posiciona em primeiro lugar no mundo por seus atrativos naturais e em oitavo, pela riqueza cultural.
Os quase seis milhões de visitantes internacionais recebidos anualmente são apenas uma pequena indicação de que há um grande potencial de crescimento e de diversificação da economia por meio do turismo, com a geração de emprego e renda produzidos pelo setor. Mas, como e o que fazer para direcionar esse crescimento em um “bom” caminho? O que seria adequado e de que forma o Brasil pode fortalecer o setor turístico, sem deixar de considerar o tripé da sustentabilidade: econômica, social e ambiental? Quais oportunidades não podem ser perdidas? Onde está a urgência de encontrar o bom caminho?
Para discutir essas e outras questões, o BID realizou em agosto em São Paulo um encontro inédito entre representantes de Secretarias de Turismo dos Estados e do Ministério do Turismo, além de executores de programas de turismo financiados pelo Banco e representantes de outras instituições financeiras. A Jornada BID para o Turismo – Caminhos para o futuro do turismo brasileiro ofereceu a oportunidade para uma grande troca de experiências entre os participantes, e aqui compartilhamos os principais desafios e oportunidades discutidos para os gestores públicos que querem promover mais o turismo.
Desafios e caminhos do turismo no Brasil
Entender as novas tecnologias e plataformas colaborativas. Ficou claro que há a necessidade de entender e direcionar o impacto que as novas tecnologias e plataformas colaborativas disponíveis exercem sobre a atividade turística nos principais destinos do país e como podem apoiar a gestão dos destinos. As novas tecnologias podem ser um forte aliado no entendimento do comportamento dos visitantes, e daí, direcionar fluxos, avaliar mercados, monitorar impactos socioeconômicos e ambientais, criar produtos com diferencial, e reduzir gastos associados à distribuição do produto turístico. Ao mesmo tempo, as novas plataformas digitais estão levando a uma ruptura na governança turística tradicional, incrementando o poder de influência dos consumidores e gerando novas relações de competitividade nos destinos. Nesse sentido, apoiar a provisão de infraestrutura de conectividade digital nos destinos é crítica, além de capacitar os entes públicos na regulamentação das tecnologias digitais no setor.
Considerar impactos da mudança climática. Falar em desenvolvimento turístico sem considerar os efeitos da mudança climática é um risco significativo para os gestores públicos, principalmente para países como o Brasil, onde a riqueza natural, que se constitui no seu principal atrativo, está ameaçada pela vulnerabilidade de seus ecossistemas costeiros ao aumento do nível do mar, à poluição, e à pressão populacional em torno de áreas protegidas. Aumentar a conectividade e acessibilidade a destinos turísticos sem levar em conta o nível de emissões de gás carbônico é, de certa forma, ignorar os custos sociais futuros. Da mesma forma, planejar o desenvolvimento turístico, evitando a massificação e a depredação dos seus valores naturais e culturais, é também um cuidado necessário, principalmente quando há casos, não raros, em que se atropela o crescimento de destinos não preparados para receber um fluxo maior de turistas pela ausência de ferramentas básicas de ordenamento territorial e de infraestrutura básica.
Diminuir as carências no mercado de trabalho. A desigualdade social existente é responsável por uma enorme distância educacional e vivencial entre o empregado e o turista. Quando há um nível de informalidade alto, além de um elevado grau de exclusão social. Como diminuir as carências de uma mão de obra qualificada para atender um visitante cada vez mais exigente? Melhorar a formação e implantação de práticas trabalhistas no setor que levem a uma melhora do clima e de condições para o empreendimento local e a empregabilidade de novos grupos sociais são caminhos apontados como importantes para se seguir de imediato.
Ter uma visão integrada de governança do setor. Existe de maneira generalizada uma estagnação de ideias e novas propostas para governar o setor, faltando uma visão integrada e mais alinhada com uma realidade que mudou tanto nos anos recentes. A ausência de coordenação entre os responsáveis pela condução de programas, planos e políticas públicas do setor turístico e outros setores, incluindo o setor privado, não tem levado o país a um marco de governança coeso e articulado com áreas de atuação pública que escapam a esfera meramente turística (como infraestrutura, segurança e meio ambiente). A consequência para o Brasil é que se perdem oportunidades de aumentar a competitividade do setor em relação à América Latina e ao restante do mundo. Aqui o sinal mais urgente é assegurar uma participação mais efetiva e a cooperação de todos os agentes relevantes do setor público, privado e sociedade civil implicados no desenvolvimento do setor. Há um esforço de comunicação e interlocução público-privada que não pode ser ignorado.
Para o BID, que vem apoiando há mais de três décadas o governo brasileiro a executar programas estratégicos para o desenvolvimento do turismo sustentável, o encontro foi uma oportunidade ímpar para capturar junto aos mais de 70 participantes os desafios atuais, e que sinais são necessários prestar atenção ao longo do caminho para maximizar os acertos e os ganhos. Por isso, teremos nas próximas semanas posts com soluções detalhadas para cada um dos desafios apresentados.
Gustavo Woltmann diz
Estou feliz por ver um trabalho assim.
Marcio Funchal diz
Prezada Juliana, como vai?
Acredito que este artigo seja um resumo de um estudo mais profundo conduzido pelo BID. Nós da CONSUFOR já apoiamos tecnicamente o banco em projetos de financiamento público no Brasil e outros para Latam, então acredito que entendemos a dinâmica desses trabalhos.
Me permita discordar um pouco da visão do banco para este setor. Não me parece que as variáveis citadas sejam as que mais influenciem a dinâmica do setor de turismo no país. Os dados mostram que o brasileiro tem gastado cada vez mais recursos com turismo.. dentro e fora do país. Contudo, fatores como Custo, Segurança e Estrutura disponível são mais sensíveis para o usuário final: o turista. Fazer turismo no Brasil é caro.. infra precária mesmo nos hot spots.. apesar de temos uma beleza cênica e riqueza cultural incríveis, não são exploradas por questões diversas.
Caso queira discutir estes assuntos, teremos o maior prazer em voltar a apoiar o BID para o desenvolvimento local.
Um forte abraço,
Marcio Funchal