Relatório recém-divulgado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostra que, em 2011, 19% dos jovens brasileiros entre 15 e 29 anos faziam parte da chamada “geração nem-nem”: nem estuda nem trabalha.
Mas o que explica que um em cada cinco jovens brasileiros não estude nem trabalhe? Parte da resposta reside no fato de que a escola, muitas vezes, não está conectada com os estudantes. Ao invés de estimular e ajudar jovens criativos e inteligentes a desenvolverem plenamente seu potencial, escolas desinteressantes, presas a fórmulas de ensino antigas e ineficientes, acabam por afugentar os alunos.
Em documentário ainda inédito, a cineasta Flávia Castro (confira entrevista acima) investiga as causas da evasão escolar. Entre os personagens da vida real que ela encontrou na fase de preparação para o curta está Arthur, um adolescente de 14 anos que vive na periferia do Rio de Janeiro. Arthur gosta de matemática e tem interesse em computação, mas suas perguntas incomodam os professores. Arthur então fica na sala de aula sem nada fazer ou deixa de ir à escola e vai a praças e bibliotecas públicas para poder…. estudar.
O desinteresse pela escola, consequência de um sistema educacional engessado, tem efeitos extremamente negativos. O potencial criativo dos alunos é castrado, o que causa prejuízos para o desenvolvimento pessoal e, no final da ponta, para o país. Além disso, parcela dos nem-nem fica condenada a permanecer nessa situação justamente porque não estudou o suficiente para conseguir nem mesmo empregos que não exigem muita especialização. Há ainda o risco de que alguns, diante da falta de perspectivas, caiam na criminalidade.
Quando eu era uma entre os muitos alunos da rede pública de ensino, uma professora uma vez chamou minha mãe à escola para informá-la de que um de meus trabalhos escolares estava muito bom, tão bom que não podia ter sido feito por mim. O comentário não foi motivo bastante para que eu abandonasse a escola, mas foi uma das razões que me fizeram perder o interesse pelas aulas da dona Maria Rosa. Repetidas extensivamente, observações como essa só desmotivam os que deveriam ser incentivados.
Treinar os professores para não desestimularem os alunos que vez ou outra superem as expectativas não resolve todo o problema, mas certamente ajudaria gente como o Arthur a continuar na sala de aula, ao invés de fugir para poder criar.
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