A relação entre turismo e o meio rural não é uma novidade, mas o turismo rural vem evoluindo muito nos últimos anos – tanto em relação ao tamanho do mercado, como às possibilidades de atividades a ele associadas. Essa conexão entre a atividade turística e o ambiente rural pode trazer diversos benefícios aos territórios e populações que neles vivem, se bem organizado e gerido: pode aumentar a permanência da população no campo, diversificando a economia das propriedades produtoras; pode valorizar produtos locais e saberes e fazeres tradicionais; pode contribuir à conservação ambiental; além de impactar a geração de emprego e renda para jovens e mulheres. Isso tudo conversa diretamente com dois dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) das Nações Unidas: o ODS 2, que fala, entre outros, da necessidade de aumentar a renda de pequenos produtores de alimentos inclusive por meio de agregação de valor e de emprego não agrícola; e o ODS 12, focado que cita o desenvolvimento e a implementação de ferramentas para atividades como o turismo sustentável como potencial para a promoção de produtos locais. Mas como colocar em prática estratégias para o desenvolvimento do turismo rural? O que vem sendo feito e pra onde estamos evoluindo? Esse foi o tema do segundo episódio da segunda temporada da série Caminhos para o Turismo.
As convidadas Andreia Roque, CEO da Brasil Rural e cofundadora do Instituto de Desenvolvimento do Turismo Rural, Claudete Costa, Coordenadora Regional na Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (EMATER) e Maria Flores, empreendedora de turismo rural em Areia, na Paraíba; trouxeram suas experiências e perspectivas para o desenvolvimento sustentável do turismo rural no Brasil em uma prosa leve e esclarecedora.
Deixamos aqui algumas das principais ideias e perspectivas compartilhadas pelas nossas convidadas, mas não deixe de ouvir toda a conversa em nosso canal no Soundcloud.
Ser uma potência agrícola, mas não ser uma potência do turismo rural?
Ao longo dos anos a percepção dos produtores rurais sobre o turismo vem mudando: enquanto há alguns anos abrir a sua propriedade para o turismo era visto como um sinal de fraqueza, hoje em dia essa abertura já é visualizada como uma fonte de diversificação econômica e até mesmo de fortalecimento das atividades produtivas. Havia uma espécie de preconceito que determinava que “se abriu pro turismo, é porque está mal na agricultura”. Esse processo paulatino de abertura explica em parte porque o Brasil é uma potência agrícola, mas nem tanto no turismo rural. As mulheres rurais começaram a liderar o processo de abertura das propriedades para o turismo e hoje ele já é reconhecido como uma vitrine, uma ferramenta de demonstração da produção rural. A “tradução de textos” entre os mundos rural e do turismo foram muito importantes nesse processo.
O papel das mulheres e dos jovens no turismo rural
As mulheres e os jovens têm um papel importantíssimo no desenvolvimento do turismo rural. As mulheres, por um lado, foram as principais motivadoras dos processos de abertura de propriedades brasileiras à recepção de visitantes, assumindo a tarefa incialmente pouco associada ao campo produtivo e amplamente ligada à hospitalidade e gastronomia. Os jovens, por sua vez, se envolvem cada vez mais no turismo rural. Com uma maior avidez e aptidão para usar novas tecnologias, enxergam rapidamente o potencial de mercado da atividade e apoiam seus pais, muitas vezes os donos das propriedades, na comercialização de produtos e de atividades ligadas ao turismo rural. Essa participação de jovens e mulheres é um dos benefícios atribuídos ao turismo rural, que pode ampliar a permanência da população das áreas rurais, inclusive ampliando as possibilidades de manutenção de produções tradicionais.
A relevância da gastronomia
A busca por experiências gastronômicas é um grande motivador das visitas turísticas, mundialmente, e que fica ainda mais patente quando se fala em turismo rural. Nesse sentido, o turismo rural pode apoiar políticas de apoio à produção agrícola familiar, de suporte a produções tradicionais e inclusive fortalecer produtos com denominação de origem e territórios reconhecidos por compartilhar a produção de um mesmo item alimentar. A identificação de terroirs, a promoção de rotas associadas a gastronomia, a associação entre diferentes produtos alimentares de um território em experiências turísticas e o estímulo para que os produtores locais valorizem seus produtos na oferta de experiências turísticas, são apenas alguns dos exemplos de como valorizar esse vínculo entre turismo rural e gastronomia.
O novo rural: um mundo em constante evolução
O crescimento do turismo rural no Brasil, com a ampliação do número de negócios destinados à atividade e sua ampla variedade, também traz novas nuances ao mundo rural. Observam-se novas ondas de empreendedorismo e um movimento contrário ao tradicional: não há apenas o produtor rural que abre sua propriedade para o turismo, mas também o empreendedor turístico que opta por também investir em uma atividade agrícola produtiva em sua propriedade como forma de diversificar sua oferta e atingir mais visitantes ou oferecer melhores experiências. Esse cenário cada vez mais amplo é benéfico para o crescimento do segmento, mas também precisa ser acompanhado pelas políticas públicas e legislações, que permitam aos empreendedores do turismo rural um campo adequado para o desempenho de seus negócios.
Deixamos aqui algumas referências compartilhadas pelas convidadas do episódio que podem ajudar a se aprofundar sobre o tema:
Podcast Turismo Rural Consciente
Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais
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