Luis Junqueira*
Primeiro Livro está entre as dozes startups mais inovadoras em indústrias criativas da América Latina e Caribe e foi selecionada para participar do Construir Soluções 2016, do BID
O Primeiro Livro sempre foi um projeto que se encaixou bem com crianças, já que desenhar, escrever e soltar a imaginação parecem ser atributos que combinam com a infância. Entretanto, no ano passado topei o desafio de convidar alunos do Ensino Médio, e eu, com muito receio de não dar certo, fui lá conversar com adolescentes, quase adultos, se eles topariam, cada um, escrever seus livros e publicá-los. Dá trabalho, exige disciplina e a parte lúdica é a exceção.
Durante o percurso, cada um vai entrar em crise… Tem a crise da folha em branco “de não saber nem como começar”, tem a crise do “vou deletar tudo e começar do zero”, e a crise do ponto final, “será uma tragédia ou um final feliz?”.
Para minha surpresa, a lista de adesão dos adolescentes superou a nossa capacidade de implementar oficinas. Fila de espera. Adolescentes de 16 a 19 anos, de escolas públicas e de internos na Fundação Casa, têm o interesse por escrever. Mas beleza, uma coisa é o interesse, a vontade de participar, outra coisa é o exercício.
Durante o ano, todas as sextas-feiras, eu vi as ideias brotarem no árido percurso da escrita de um livro. Uma saga medieval de um menino em busca do pai, uma autobiografia de um crime, um livro dedicado a todos que gostam de deuses e guerras, vi ideias de poesia virarem livros de fato.
Ao longo do percurso, descobri que havia um jovem pai escrevendo uma obra. Descobri quando li em sua dedicatória um sensível presente ao seu filho de dois anos: “Foi por ele que decidi fazer este livro”. O aluno pai de 19 anos conta em seu livro infantil a história de uma reconciliação familiar. Em sua sexta (!) passagem pela Fundação Casa, outro aluno escreveu em sua sinopse “refletir também sobre o outro não é uma coisa fácil, pois, para fazer isso, precisamos ter sabedoria e humildade para perceber o outro e, com isso, perceber a nós mesmos”.
Sempre me pergunto por que tanta gente se interessa em contar sua história e, mais difícil, passa pela penosa trajetória da criação – resolver o gênero textual, escolher o tipo de narração, arquitetar os conflitos, definir a personalidade dos heróis, decidir o destino feliz ou trágico da história. Talvez contar uma história seja parte da essência humana, ou talvez não, mas a verdade é que é bom demais reverberar nossa fresta de vida, enquanto aprendemos a navegar no imprescindível mundo da imaginação.
*Luis Junqueira é professor de Língua Portuguesa, deu aulas para alunos de nove a 60 anos em escolas públicas e privadas. Desde 2012, deixou a sala de aula e passou a empreender com a missão de contribuir com a melhoria da educação pública do Brasil através da escrita.
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