Alejandra Luzardo*
A indústria de videogames já está liderando o mercado global de entretenimento, e certamente é um dos setores das indústrias culturais e criativas – o que chamamos no BID de Economia Laranja – com maior potencial. Em 2016, a indústria de videogames gerou quase US$100 milhões em nível mundial e, até 2018, estima-se que poderia exceder US$113,3 bilhões, de acordo com dados divulgados pela empresa especializada Newzoo.
Qual é o verdadeiro papel das meninas – ou das jogadoras – no mundo dos videogames? De acordo com os “canhões” convencionais desta indústria, para se considerar uma jogadora você deve saber jogar “games” que são suficientemente elaborados, complexos e estratégicos; jogar casualmente não conta. Mas, para surpresa de muitos, é exatamente o que estão fazendo centenas de meninas da América Latina e do Caribe que estão mudando a direção dessa indústria.
“As mulheres são as maiores consumidoras, e participamos de 48% da indústria de videogames como gamers entusiastas, mas não nos encorajamos a ser criadoras de jogos, e é precisamente o que estamos empurrando desde a Rainha Epic” (Dany Gonzalez, fundador de Epic Queen).
A indústria global de videogames continua a ter uma baixa porcentagem de mulheres em suas equipes de desenvolvimento, de apenas 22%. Planet Money explica as causas do fenômeno: a proporção de mulheres que estudavam ciência da computação começou a cair quase ao mesmo tempo em que os computadores pessoais inundaram casas norte-americanas. Esses primeiros computadores eram praticamente nada mais do que brinquedos, que eram comercializados exclusivamente para meninos, adolescentes e homens.
Na década de 1990, a pesquisadora Jane Margolis entrevistou centenas de estudantes em Informática na Universidade Carnegie Mellon, que possuía um dos melhores programas curriculares nos Estados Unidos. Ela descobriu que os pais eram muito mais propensos a comprar computadores para seus filhos do que para suas filhas, mesmo que elas realmente estivessem interessadas em computação. E este estereótipo marcou a tendência. As meninas vieram à faculdade com muito menos experiência do que os meninos.
Esse problema contrasta com o fato de ter havido mulheres notáveis que atearam fogo no começo da era da informática. Por exemplo, Ada Lovelace, no século 19, escreveu o primeiro algoritmo projetado para ser processado por uma máquina, assim ela é considerada a primeira programadora da história. Em meados do século XX Grace Hopper desenvolveu o primeiro compilador para uma linguagem de programação. Hedy Lamarr, enquanto isso, foi co-inventora da primeira versão do espectro ampliado, que mais tarde abriria caminho para a tecnologia Wi-Fi.
O primeiro videogame foi criado em 1958. Vinte anos depois, Carol Shaw foi a primeira mulher a programar um videogame: “Pole” da Atari. Em 1981 apareceu a primeira personagem feminina em um jogo de videogame, embora ocupasse um papel meramente “decorativo”: o objetivo era salvá-la de Donkey Kong. No mesmo ano, surgiram a primeira protagonista de um jogo: a Sra. Pac-Man, a versão feminina – e estereotipada – do Pac-Man original. Desde então, mulheres ganharam mais notoriedade no universo dos videogames, seja como usuárias ou desenvolvedoras bem-sucedidas, em um mercado que sempre foi considerado típico dos homens.
Recentemente, o presidente da Entertainment Software Association observou que a porcentagem de programadoras femininas no setor ainda não excede 22%, o que certamente aumentará nos próximos anos. Ambos os setores público e privado têm uma ótima oportunidade se capacitarmos as jogadoras latino-americanas e caribenhas com as ferramentas educacionais necessárias para aumentar o número de desenvolvedores e designers em um dos maiores mercados do mundo.
Para as meninas que ainda não são encorajadas a seguir esta rota, pode ser muito encorajador saber que a profissão de desenvolvimento de software é a carreira de mais rápido crescimento na América Latina, e espera-se que até 2019 sejam necessários cerca de 450 mil profissionais. Estamos em um momento em que as mulheres podem revolucionar a indústria de videogames. Incentive-se a competir em um mercado que já está dominado por você.
Meninas, a próxima vez que você se conectarem a uma plataforma multiplayer não silenciem seus microfones, vocês devem romper com estereótipos. Aqui estão algumas das desenvolvedoras mais destacadas da indústria de videogames:
ARGENTINA
Mara Ares é CEO da Ares Gaming Labs e professora de Game Designing na UADE, onde os alunos aprendem a planejar, projetar e implementar um projeto de jogo bem-sucedido usando metodologias ágeis. Ela é autora de videogames. Crie seu negócio em 10 etapas.
Alejandra Bruno é designer narrativa, roteirista e designer de jogos de videojogos educativos, como “Mundo Gaturro”, patrocinado pela UNICEF, no QB9 Entertainment.
Martina Santoro, CEO e co-fundadora do Okam Studio, desenvolvedora de videogames premiados, alguns deles em co-produção com estúdios da Disney e Cartoon Network, também é o novo presidente da ADVA (Associação de Desenvolvedores de Videogames da Argentina).
BRASIL
Mariana Boucault começou sua carreira como designer de jogos na empresa brasileira Insolita Studios e depois se instalou no Canadá, trabalhando primeiro em Tapps Games e atualmente em Behavior Interactive.
Sabrina Carmona é natural de São Paulo que mora em Estocolmo. Ela trabalhou primeiro na Square Enix América Latina e atualmente em Goodgame Studios.
Thais Weiller está atualmente projetando e produzindo videogames no JoyMasher, e anteriormente trabalhou no prestigiado estúdio brasileiro Black River Studios.
CHILE
Maureen Berho é Diretora de Comunicações da Video Games Chile e Niebla Games, bem como da Associação Chilena de Desenvolvedores de Vídeogame.
MÉXICO
Dany Gonzalez é a CEO da Epic Queen, cujo lema é “Empoderamento das Mulheres através da Educação Tecnológica”.
Stephanie Prodanovich é Project Manager Associate em vários estúdios de produção de videogames, principalmente na Square Enix Latin America, que lançou títulos bem-sucedidos como “Final Fantasy” e a nova versão do “Tomb Raider”.
URUGUAI
Sofia Battegazzore foi uma das pioneiras no desenvolvimento de videogames no Uruguai. Durante 10 anos ela foi encarregada de Powerful Robot Games, onde coproduziu jogos para estúdios como Pixar, Lucasfilm, Cartoon Network e Disney.
Laia Bee é co-fundadora da Princer Game Studio e é membro do Conselho de Administração da Girls in Tech Uruguay. Ela é DJ e responsável pelo som e produção musical de seus videogames. Ela ensina cursos de desenvolvimento de jogos para meninas apenas.
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