Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil.
Vivo fora do Brasil já há cinco anos e tenho acompanhado com muito interesse os recentes protestos em várias cidades brasileiras. Existem duas características sobre esse fenômeno que me parecem bastante interessantes.
Primeiro, a insatisfação está relacionada – pelo que pude entender da cobertura jornalística – com aspectos que afetam a qualidade de vida das pessoas, tais como transporte, saúde, e educação, por exemplo. Além disso, os protestos ocorrem após um longo período de crescimento econômico sustentado, com ganhos visíveis nos níveis de emprego e renda. De certo modo, as manifestações que acontecem agora no Brasil me fazem lembrar dos recentes protestos no Chile, onde estudantes saíram às ruas para lutar por educação de melhor qualidade.
Um dos aspectos mais surpreendentes desse fenômeno é que tanto o Brasil como o Chile não somente estão entre os países mais ricos da América Latina, mas também entre os que tiveram melhor desempenho econômico na última década, graças a políticas sustentáveis e um cenário internacional favorável. Os sistemas educacionais dos dois países, bem como os de transporte e saúde, apesar de não serem perfeitos, estão entre os melhores da região, de acordo com avaliações internacionais. Mas então, porque há tanta insatisfação?
Estudo publicado pelo BID em 2008 oferece uma análise interessante. De acordo com esse levantamento, baseado em diversas pesquisas de opinião, quanto maior a renda de um país, maior o nível de insatisfação. Esse fenômeno, conhecido no jargão econômico como o paradoxo das expectativas, tende a se exacerbar em períodos de rápido crescimento econômico.
Visto por esse prisma, pode-se tirar uma conclusão importante sobre essa recente onda de inquietação. Fomentar o crescimento econômico sustentável é essencial, mas também é igualmente necessário administrar as expectativas da sociedade quanto ao nível de melhora em sua qualidade de vida.
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