Celio Freitas Bouzada*
O Mobicentro surgiu da necessidade de resolver uma equação: preparar a cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, para receber um novo modelo de transporte coletivo, o BRT Move, e ao mesmo tempo dar oportunidade no trânsito aos pedestres e usuários do transporte coletivo que circulam pela região central da cidade. Tudo isso sem grandes obras e a um custo baixo.
O Projeto, um dos vencedores do Prêmio Governarte do BID, privilegiou soluções simples: criação de faixas exclusivas ou prioritárias para os ônibus do BRT Move e alterações nas travessias de vias. A ideia era permitir uma convivência mais harmoniosa e segura entre veículos e pedestres. O projeto foi financiado pela Agência Francesa de Desenvolvimento por sua atuação na promoção da sustentabilidade ambiental e segurança no trânsito. Com o sinal verde, foi dada a largada do Mobicentro.
Primeiros passos: preparando o terreno
As primeiras intervenções do Mobicentro foram pontuais. A circulação do tráfego foi modificada e as vias preparadas para receber as faixas exclusivas ou prioritárias para ônibus. Foram criadas alternativas para dispersão do tráfego na área central com a utilização de ligações interbairros e a organização do fluxo de veículos, sempre com o objetivo de diminuir o tempo do percurso. Essas primeiras ações reduziram os congestionamentos e os conflitos entre veículos e pedestres.
Integração: mudou o cenário do centro da cidade
Buscando aumentar a sensação de conforto do pedestre com o novo sistema de transporte público, seis grandes estações de transferência do BRT Move foram instaladas no hipercentro de Belo Horizonte, nas avenidas Paraná e Santos Dumont. O sistema viário foi modificado para acolher os passageiros do BRT Move, a segurança foi reforçada e o resultado: o fluxo de pedestres na região cresceu.
Pedestre: prioridade total
Para deixar a região mais amigável ao pedestre os tempos semafóricos foram ampliados, privilegiando os parâmetros de velocidade de caminhada da pessoa. Além disso, todas as calçadas, junto às interseções foram tratadas com acessibilidade universal.
O Mobicentro teve o apoio da campanha educativa chamada “Pedestre. Eu Respeito” que estimulava a travessia das ruas de forma segura. Os pedestres, usuários do transporte coletivo, motoristas, motociclistas receberam orientações sobre as mudanças implantadas. As ações reduziram as tensões dos cidadãos e contribuíram para uma convivência mais harmoniosa e segura entre todos que circulam na área central de BH.
Atropelamentos: redução de mais de 50% no coração da capital
As intervenções do projeto Mobicentro contribuíram e muito para a segurança do pedestre. As ações implantadas na região da Praça Sete de Setembro, por exemplo, resultaram na redução de 56% do número de atropelamentos, principal motivo de morte em acidentes de trânsito. Avaliando todas as ações do projeto houve uma redução de 18% do número de atropelamentos em todos os cruzamentos onde o trânsito foi alterado.
Acessibilidade: semáforo sonoro ajuda pessoas com necessidade visual a atravessar a rua
Os resultados alcançados na primeira etapa do projeto Mobicentro, especialmente os relacionados a reverter a situação histórica da vulnerabilidade do pedestre no trânsito, criaram outras possibilidades de melhoria. Para apoiar o sinal que já ficava aberto mais tempo foi incluído um recurso muito importante, o sonoro. A ideia é que o som auxilie a pessoa com algum tipo de necessidade visual a atravessar a rua. Milhares de pedestres já se habituaram ao “bip-bip” que orienta e indica o momento adequado para atravessar as avenidas Afonso Pena e Amazonas.
Eficiência: amplia o projeto para outras regiões
A diminuição no número de atropelamentos no centro da capital mineira, a melhora do fluxo de veículos da saída do hipercentro e a expectativa de redução do consumo de combustível além da diminuição da emissão de gases poluentes estimularam a ampliação do Mobicentro. Com o sucesso do projeto, outras áreas de Belo Horizonte foram contempladas com a iniciativa.
Pensar no desenvolvimento urbano privilegiando o pedestre e os usuários do transporte coletivo são questões que fazem a diferença, ainda mais quando o custo é baixo e o resultado é alto. Deixar a cidade mais harmoniosa é o reflexo de um projeto feito de pessoas para pessoas.
* Celio Freitas Bouzada é presidente da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte S/A – BHTRANS.
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