São muitos os desafios que se impõem ao gestor público: demandas diversas, marco regulatório nem sempre tão claro, sistema decisório complexo e pressões políticas e econômicas combinadas de forma que, avançar com o propósito de cumprir metas nem sempre é tão fácil como se deseja.
Mas um modelo de gestão sobre o qual falamos aqui (em espanhol) alguns anos atrás – as Delivery Units (DUs), ou “Unidades de Entrega” – permite superar os obstáculos organizacionais do poder público e tem apresentado resultados positivos em diversos países, incluindo o Brasil.
Diante dos benefícios trazidos pela adesão a esse modelo, o BID tem encorajado e apoiado governos a adotarem as DUs. Esse suporte se dá por meio de consultorias, casos de estudo e cooperações técnicas para a implantação das DUs – exemplo do acordo firmado com o Ministério da Economia do Brasil este ano.
Abordaremos especificamente esse acordo com o governo brasileiro no próximo post sobre o tema. Neste post, explicamos o que são as Delivery Units, como elas funcionam e como esse modelo tem evoluído:
O que é uma Delivery Unit?
Uma Delivery Unit é uma equipe de menos de 10 pessoas com fortes capacidades técnicas e empoderamento político que, na prática, procura determinar quatro coisas:
- O que vamos fazer, apoiando as lideranças na seleção das prioridades máximas e definindo, a partir disso, metas mensuráveis, realistas e exigentes, considerando o desempenho passado e referências;
- Como vamos fazer? Em outras palavras, a Delivery Unit apoia as áreas – por exemplo, os ministérios de um governo — que devem fazer essas prioridades saírem do papel, com metodologia e ferramentas para a essas ações. Para esse passo, é importante a definição de responsáveis, prazos, orçamento e indicadores intermediários – tudo muito concreto e palpável para permitir o acompanhamento de perto do que está dando certo e o que precisa ser melhorado
- Como estamos indo? A equipe também se preocupa em fazer análises constantes dos dados e verificações nos territórios (deep dives) que possam alertar rapidamente caso a estratégia não esteja dando os resultados esperados e exista risco de não cumprir as metas no prazo; e
- O que precisa ser corrigido? liderando a coordenação entre as instituições envolvidas, reunindo tomadores de decisão e procurando soluções alternativas aos problemas.
Em outras palavras, as Unidades de Entrega são equipes que, com respaldo das altas lideranças (que podem ser os ministros ou chefes de Estado, no caso de governos), definem prioridades, metas claras, articulam diferentes setores e fazem acontecer as ações necessárias – que podem ser as promessas eleitorais de um governo recém-empossado ou as iniciativas para combater a crise causada pelo novo coronavírus.
Ganhos trazidos pelas Delivery Units
São diversos os benefícios trazidos por esse modelo no setor público. Recentemente, um estudo em inglês analisou 15 experiências na América Latina e no Caribe com as Unidades de Entrega e constatou os seguintes efeitos positivos:
- Apoio para obter “foco” nas prioridades do governo. As DUs ajudaram a definir melhor o “o quê” e o “como” das prioridades: objetivos concretos, metas realistas, responsáveis e estratégias muito específicas. Elas também contribuíram para aumentar a responsabilidade do gabinete de governo e melhorar a reação governamental quando as metas não estão sendo alcançadas.
- Resultados tangíveis para os cidadãos. As DUs contribuíram para reduzir as taxas de homicídios e roubos, melhorar o desempenho escolar em avaliações de estudantes, reduzir mortes por doenças evitáveis e melhorar o estoque de medicamentos e suprimentos médicos, além de reduzir atrasos na execução de obras públicas, entre outras. Na Colômbia, por exemplo, o roubo de celulares em 10 cidades caiu 12% em um ano com o apoio de uma Delivery Unit.
- Maior desempenho em determinados contextos institucionais. As DUs são especialmente úteis em contextos de menor desenvolvimento institucional. O mesmo ocorre nos casos em que existem prioridades multissetoriais complexas que envolvem mais de um ministério (combate à pobreza, criação de empregos, produtividade, primeira infância, segurança cidadã, e a reativação econômica no contexto de resposta ao coronavírus etc).
- Mais parcerias multissetoriais: uma pesquisa de 2019 feita em parceria entre BID-OCDE com 11 países da América Latina e do Caribe mostrou que 72% dos governos relataram que as iniciativas multissetoriais em seu país aumentaram entre 2013 e 2018 graças ao uso de Delivery Units.
Como o BID apoia as Delivery Units
O suporte do BID aos governos na implementação deste modelo se dá de diversas formas:
- Desenho e implementação: Apoiamos governos a implementar Delivery Units e damos assistência técnica aos ministérios encarregados de gerenciar prioridades do governo. Alguns exemplos incluem: Argentina, Colômbia, Peru e Bahamas.
- Cooperação técnica: desde 2013, o BID tem uma iniciativa regional para fortalecer os chamados “Centros de Governo”, que são estruturas nas quais as Delivery Units operam. Além do Brasil, firmamos cooperações técnicas com países como Honduras, Paraguai e Uruguai.
- Estudos de caso: documentos compilando aprendizados e recomendações também auxiliam governos interessados em entender o funcionamento das Delivery Units. Nesse sentido, destacam-se publicações como “Liderando a partir do centro: o modelo de gestão de Pernambuco” e estes documentos disponíveis em inglês e espanhol: “Lições aprendidas da Delivery Unit do governo colombiano”, “Que impacto as Delivery Units têm?” e “O papel dos Centros de Governo na América Latina e no Caribe”.
Leia mais:
Boa tarde Mariano, tudo bem? Me chamo Luiz Campos, sou servidor federal e trabalho na implementação de políticas de agricultura familiar e segurança alimentar. Eu gostei bastante do conceito e do funcionamento das D.U. s e gostaria de saber se existe algum caso de D.Us. nestas áreas (ou de forma mais geral, em políticas agrícolas). Muito obrigado.
Oi Luiz! Obrigado pelo comentario. Existem sim, de fato a IFAD tem promovido muito as DUs nesse tema em alguns paises do mundo. Te deixo aqui alguns links que podem ser de interesse: https://www.ifad.org/en/web/latest/event/asset/41999780 https://www.ifad.org/en/development-effectiveness. O especialista no tema e Juan Jose Leguia, que liderou a DU do governo do Peru, e depois foi para IFAD: https://www.linkedin.com/in/juan-jos%C3%A9-legu%C3%ADa-079b6039/