O turismo sustentável ajuda a financiar os esforços de conservação e preserva os ecossistemas naturais. Uma iniciativa recente no parque nacional Torres del Paine do Chile é um grande exemplo disso.
O turismo sustentável é uma excelente resposta a uma pergunta difícil: como financiar os esforços de conservação e preservar os ecossistemas naturais em momentos em que o setor enfrenta uma brecha de financiamento ampla e crescente.
O financiamento atual da conservação depende principalmente dos orçamentos governamentais, que atualmente estão sendo reduzidos na América Latina e no Caribe (ALC), e de doações ou subvenções filantrópicas, que também seguem incertas e carecem de estabilidade para sustentar uma agenda programática de conservação de longo prazo.
A falta de escalabilidade e replicabilidade substanciais dos modelos atuais de financiamento da conservação faz com que o financiamento institucional seja difícil de alcançar, o que impede a adoção generalizada de iniciativas de conservação da terra. A transição para modelos de conservação mais atuais, modernos e autossuficientes, bem como o acesso a fontes mais seguras e abundantes de financiamento adequado e personalizado ajudaria com este problema.
O financiamento governamental para promover iniciativas de conservação da terra está constantemente sob pressão, especialmente depois da COVID-19, já que os investimentos em saúde, educação e infraestrutura têm prioridade nos orçamentos anuais. Dado que os benefícios dos esforços de sustentabilidade tendem a se materializar a médio e longo prazos, estes programas muitas vezes ficam em segundo plano à medida que os governos promovem iniciativas mais tangíveis e com retornos mais imediatos.
Deste modo, os esforços de conservação da terra ficam esquecidos e com poucos recursos. Segundo um relatório produzido em colaboração pelo Instituto Paulson, The Nature Conservancy e Centro Cornell Atkinson para a Sustentabilidade, a lacuna de financiamento entre o investimento atual em esforços de conservação da biodiversidade global e o que realmente é necessário gira em torno de US$598 bilhões e US$824 bilhões por ano. E o pior: não há indícios de que esta lacuna será fechada no curto prazo.
A conservação também está baseada em um modelo filantrópico estático e obsoleto que depende da boa vontade dos doadores com excesso de capital para promover programas e iniciativas. Tais estruturas não são eficientes nem previsíveis, o que requer uma transição a outros modelos autossuficientes com fluxos de receitas mais consistentes e confiáveis.
Um exemplo disso é a Explora, uma empresa hoteleira com sede no Chile que tem instalações premiadas em toda a América do Sul, e que agora coloca os esforços de conservação da natureza no centro de suas operações. Com a criação de uma reserva de conservação de 6.000 hectares adjacentes ao Parque Natural Torres del Paine, no Chile, a Explora vai preservar e recuperar ecossistemas que foram afetados por atividades de pecuária.
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Aproximadamente 99% do terreno serão dedicados à conservação e à proteção, e o 1% restante será utilizado em conceitos de hospedagem sustentável com fins lucrativos que promovam a pesquisa e a educação, com um modelo comercial que cubra os gastos operacionais relacionados aos esforços de conservação. Com a colaboração da The Nature Conservancy, os planos de conservação e recuperação serão financiados através de uma doação viabilizada a partir da venda de ações de terras a investidores.
Ao combinar um modelo de empresa comercial com um compromisso sem fins lucrativos, a Explora pode expandir e acelerar sua agenda de conservação, tornando-a escalável com financiamento programático permanente. No início de 2022, o BID Invest aprovou um financiamento para a Explora, reafirmando a importância de apoiar modelos inovadores de conservação, com a expectativa de replicá-lo em outros lugares na América Latina e no Caribe.
A adoção de soluções autossuficientes criativas para o dilema da conservação é um bom começo, mas a falta de escala e replicabilidade continua sendo um desafio. Até agora, os novos modelos de conservação se limitam a casos únicos, de pequena escala, impulsionados principalmente por desenvolvedores apaixonados que querem fazer o correto e têm fontes de capital pacientes.
Passar do financiamento impulsionado por doadores ao impulsionado por investidores é a chave para estabelecer a proteção da natureza como uma classe de ativo orientada para o resultado. De acordo com um relatório sobre Finanças para a Conservação preparado em colaboração por Credit Suisse, WWF e McKinsey & Company, há recursos suficientes para satisfazer a demanda mundial de conservação com a realocação de somente 1% do capital novo e reinvestido.
Como parte dessa realocação de capital, os investimentos impulsionados pelo turismo sustentável podem desempenhar um papel importante nas carteiras institucionais, já que podem gerar fluxos de receita sustentáveis e proporcionar um caminho para escalar. Uma forma de reorientar os esforços é redirecionar os investimentos a redes de hotelaria internacionais que já estão fazendo esforços significativos para integrar iniciativas de conservação dentro das suas operações, como é o caso do Six Senses e Aman, entre outros.
Os esforços de conservação poderiam expandir-se ainda mais já que estas redes têm presença e alcance globais, relações sólidas com os proprietários atuais e com novos investidores, e modelos operacionais confiáveis e comprovados que trazem confiança aos investidores em busca de tais iniciativas.
Os bancos e as instituições financeiras são outra peça essencial do quebra-cabeças para seguir impulsionando a expansão sólida das iniciativas de conservação da terra. Os títulos temáticos, como os títulos verdes, sociais e sustentáveis e, mais recentemente, os títulos vinculados à sustentabilidade (SLB, na sigla em inglês), tornaram-se instrumentos financeiros importantes para promover uma agenda sustentável e inclusiva, já que os bancos equilibram a avaliação e o preço do risco, ao mesmo tempo que recompensam as práticas sustentáveis responsáveis.
Com um mercado de mais de US$60 bilhões na América Latina e no Caribe, os SLB representam um dos segmentos de crescimento mais rápido dentro do mercado de finanças sustentáveis, com a maioria das emissões ligadas a iniciativas ambientais e de descarbonização e preservação dos ecossistemas naturais. Esses instrumentos oferecem transparência sobre os produtos do investimento, informação clara sobre os rendimentos e os riscos associados, bem como garantias sobre seu impacto geral na conservação. À medida que estes títulos se tornem mais generalizados, os operadores hoteleiros que buscam cumprir com os princípios ambientais, sociais e de governança (ESG) poderão se beneficiar do acesso a novas formas de financiamento, enquanto buscam uma agenda de conservação sólida e com objetivos mensuráveis.
Se feito da maneira correta, as empresas turísticas têm a oportunidade de realizar esforços de conservação da terra de maneira sustentável, sem criar um peso financeiro para as suas operações e pavimentando o caminho para soluções institucionais escaláveis à medida que esta classe de ativos continua amadurecendo. Ao incorporar uma sólida estratégia de conservação de seus modelos operacionais, as empresas turísticas se beneficiam ao acessar novos tipos de investidores de impacto e instrumentos financeiros inovadores, como os SLBs ou soluções de financiamento combinadas, contribuindo para preencher a lacuna financeira cada vez maior para a conservação dos ecossistemas naturais.
Texto também disponível em espanhol e inglês no blog do BID Invest.
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