Foto: Robert Cutts (Flickr Commons)
Melissa Costa *
Quase tão essencial quanto o arroz e feijão, a internet é cada vez mais acessada nas favelas brasileiras. De acordo com o Instituto Data Favela, 52% dos moradores das favelas têm acesso à internet. Por meio da rede, as comunidades desmistificam a pobreza associada à impotência das comunidades.
A grande produção de mídia nas favelas e sua participação nas redes sociais dá aos moradores um protagonismo inédito, já que aqui, ao contrário do que se vê nas mídias tradicionais, eles são os autores de suas próprias histórias. Em vez de terceiros falando de localidades carentes, são os residentes que falam de “suas favelas”. O empoderamento destas comunidades se dá por meio de jovens que utilizam canais como o Facebook, Twitter e Instagram para debater os assuntos que realmente interferem em seu dia-a-dia. Grandes websites como “Viva Rocinha” e “Voz das Comunidades” (produzido no Complexo do Alemão) tratam do cotidiano das favelas. Neste nicho do universo digital, violência, racismo e desigualdade social são vistos com lentes diferentes.
Produzir tal conteúdo, porém, requer criatividade. Para driblar a exclusão digital, moradores compartilham o acesso à internet com amigos e com vizinhos ou utilizam computadores no trabalho e na escola. As lan houses e o telefone celular são outros grandes meios de acessibilidade – só a telefonia celular é responsável por 41% do acesso nas favelas.
Tais níveis de acessibilidade são alentadores quando se leva em conta que em países como a China – terra do conglomerado Huawei, um dos maiores produtores de equipamentos de telecomunicação do mundo, a fatia da população conectada à internet é menor que a verificada nas favelas brasileiras: só 43% dos chineses estão plugados.
Por outro lado, a exclusão digital no Brasil, e nos BRICs (grupo composto pelo nosso país e por Rússia, Índia, China e África do Sul), os níveis de acessibilidade são baixos em termos gerais. Na Índia, outro gigante das telecomunicações, somente 13% da população está conectada à internet – para se ter uma ideia, a taxa de conectividade na Suécia é de 94%. Os dados são da União Internacional de Telecomunicações (ITU, na sigla em inglês). Tanto China e Índia focam seus esforços em produtos de informática para exportação, incluindo a exportação de craques (mão-de-obra qualificada) no ramo, mas negligenciam a necessidade de aprimorar a infraestrutura no próprio país para diminuir a exclusão digital.
No caso brasileiro, apesar de esforços do governo como o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), estabelecido em 2010 para reduzir a exclusão digital, a conectividade em áreas rurais e em comunidades urbanas carentes ainda está aquém do potencial. Daí a importância da criatividade demonstrada pelos moradores das favelas e de projetos de melhora de infraestrutura, como o programa de urbanização Favela Bairro, financiado pelo BID.
*Melissa Costa é consultora de comunicação do BID.
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