Entre 1990 e 2000, a população que vivia no centro da cidade de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, diminuiu bastante ao mesmo tempo em que a maior parte dos empregos eram concentrados na área central. Essa dinâmica se explica, em parte, pela alta taxa de motorização da cidade, que conta hoje com seis veículos para cada 10 habitantes, o que implicou em uma redução em 28% do número de passageiros de ônibus entre 1998 e 2012. Esse movimento tem acontecido em várias cidades brasileiras e no caso de Campo Grande, a transformou na capital brasileira com a mais alta taxa de emissões de CO2 por pessoa, estimada em 1,7 kg/habitante.
Mas como revitalizar o centro da cidade e torná-lo atrativo e dinâmico de novo? Como fomentar a mobilidade segura e inclusiva para que as pessoas sejam cada vez menos dependentes de veículos individuais? Como promover o acesso de cidadãos que normalmente se veem excluídos dos processos de planejamento urbano – mulheres, pessoas idosas e com mobilidade reduzida, pessoas com deficiência e crianças? Em outras palavras, como oferecer serviços públicos que atendam às necessidades dos diferentes grupos da população, ao mesmo tempo em que se possibilite o uso das ruas e dos espaços públicos de forma integrada?
Frente a estes desafios e com a missão de responder a estas perguntas, Campo Grande vem trabalhando desde 2008 com o apoio do BID na busca de soluções para que a região central da cidade volte a ser não apenas o centro econômico, mas também uma opção de moradia para a população. Recentemente foi realizado um exercício que uniu o BID, o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), gestores públicos multissetoriais da cidade, sociedade civil, academia e líderes comunitários para identificar conceitos e boas práticas que ajudem no desenvolvimento dos desenhos de intervenções e revitalização da região central da cidade por meio da melhoria do sistema de transporte coletivo e da acessibilidade para apoiar a dinamização da economia local e a ampliação da oferta habitacional do centro.
Colocando-se no lugar do outro
Ao longo de cinco dias de imersão os participantes puderam internalizar os conceitos aprendidos durante as atividades teóricas e puderam “viver” a experiência do ponto de vista dos cidadãos, sobretudo sentindo as dificuldades que pessoas em situação de vulnerabilidade ou com necessidades específicas que enfrentam ao se deslocar pela cidade. Algumas das descobertas feitas pelo grupo, que decidiu se colocar no lugar do outro e ver a cidade por outros ângulos incluem:
Eliminar obstáculos existentes nas calçadas, como a presença de buracos e instalação inadequada de piso podo tátil inadequado (faixa em alto-relevo fixada no chão para auxiliar na locomoção de pessoas com deficiência visual);
Incluir semaforização específica para os pedestres, para orientar o fluxo de tráfego, minimizar os conflitos e disciplinar a utilização das vias;
Melhorar a iluminação das calçadas e vias públicas, para propiciar condições favoráveis ao pedestre ne utilização noturna dos espaços públicos e para melhorar a sensação de segurança, especialmente de mulheres;
Incluir mobiliário urbano adequado, observando a presença de pessoas sentadas em locais improvisados;
Arborizar as vias públicas, que além de compensar a elevada emissão de CO2 na cidade, ajuda com o sombreamento das ruas;
Observar potenciais pontos para intervenções que estimulem o desenvolvimento da infância na cidade, no caso de se observar um fluxo considerável de crianças brincando em uma determinada área, por exemplo.
Inovar não é apenas desenvolver aparatos e sistemas tecnológicos, inovar consiste também em aperfeiçoar processos, enxergar por outros ângulos um determinado desafio e assim melhorar o que pode ser ajustado. Os processos colaborativos de coleta e análise de dados e percepções de diferentes atores da sociedade, além de processos participativos de construção de propostas é uma maneira inovadora que Campo Grande está usando para se tornar uma cidade mais inclusiva.
Veja aqui uma seleção de publicações sobre cidades inclusivas que ajudam a construir uma conversa transversal sobre o tema, compartilhando lições aprendidas em diferentes contextos geográficos e culturais.
Fotos do post: Jason Hobbs
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