Quando a falta de confiança trava o investimento em eficiência energética
Maria Netto*
A indústria brasileira pode poupar cerca de R$ 4 bilhões até 2020 ao implantar ações voltadas à eficiência energética – além de reduzir a emissão de gases de efeito estufa em mais de 8,5 milhões de toneladas, segundo estimativas da Empresa de Pesquisa Energética.
A redução de gastos com energia pode diminuir o preço de venda do produto, além de aumentar a lucratividade do produtor e torná-lo mais competitivo. Entretanto, o empresariado brasileiro – em particular proprietários de micro, pequena e média empresas – ainda demonstram resistência ao investimento em ações de eficiência energética.
O principal motivo é a falta de confiança nos resultados das ações de eficiência energética. Eles não acreditam que a redução de custos é suficiente para pagar ao banco o eventual empréstimo assumido. Já os bancos, mesmo oferecendo linhas de crédito específicas para investimento em projetos de eficiência energética, ainda demonstram falta de confiança na obtenção de resultados suficientes para que o empresário, tomador do crédito, possa honrar o compromisso.
Pensando em atacar diretamente esse gargalo, que trava os investimentos em tecnologias mais eficientes e limpas, implantamos no Brasil o “Programa de Eficiência Energética Garantida”, um novo modelo que combina três fundamentos básicos para impulsionar projetos de geração e uso eficiente da energia:
1. Metodologias de avaliação técnica
Firmamos uma parceria com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Ela vai avaliar tecnicamente o fornecedor e o projeto, garantindo a execução de projetos de eficiência energética. A ABNT vai garantir que a iniciativa resultará nos ganhos de eficiência energética esperados.
2. Seguro-garantia de desempenho energético
Em conjunto com a seguradora AXA Brasil, desenvolvemos um modelo de seguro-garantia que vai indenizar integralmente o empresário caso, por qualquer razão, o projeto não gere os ganhos de eficiência energética esperados.
3. Contrato de desempenho energético padronizado
O contrato vai regular a relação entre o fornecedor da solução voltada à eficiência energética e o empresário, de forma equilibrada e justa. Foi pensado para garantir que o fornecedor da solução voltada à eficiência energética seja obrigado a entregar ao empresário a redução energética prevista no projeto. Por se tratar de um modelo padronizado para uso de todos os aderentes ao programa, proverá conforto especialmente aos micro, pequenos e médios empresários, que não dependerão de assessorias técnicas especializadas para avaliar as cláusulas contratuais.
Modelo inovador
A principal inovação desse modelo é a existência do seguro-garantia de desempenho energético – solução suficiente para suprimir do empresário a falta de confiança quanto aos resultados reais dos projetos de geração e uso eficiente de energia. Afinal, a seguradora indenizará integralmente o empresariado em caso de não atingimento da economia de energia projetada e prometida pelo contratado.
Os três elementos-chave do “Programa de Eficiência Energética Garantida” se destinam a aumentar a confiabilidade quanto ao retorno dos projetos de geração e uso eficiente de energia, compartilhando os riscos entre instituição financeira, cliente e fornecedor.
O programa conta com um pacote de metodologias para investimento em tecnologias como resfriamento, climatização, compressores de ar, motores, sistemas de vapor e cogeração de energia, além da geração solar distribuída. Em caso de demanda ou necessidade, outras tecnologias poderão ser integradas ao programa.
Atualmente, três bancos regionais de desenvolvimento estão aptos a financiar projetos de geração e uso eficiente da energia, são eles: Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul, Bandes e Goiás Fomento. Serão US$ 25 milhões em linhas de financiamento de médio e longo prazo, com condições atrativas. Diante do potencial dos projetos de eficiência e geração solar no Brasil, o alastramento do Programa para diversas outras instituições financeiras é previsto para breve, já que as ações de eficiência energética em todo o território nacional ainda são tímidas diante do enorme potencial que o País oferece.
Apesar da ampla disponibilidade de tecnologias e soluções para redução do consumo energético, o Brasil está classificado como um dos menos energeticamente eficientes dentre os países similares e industrializados no mundo. Atualmente ocupamos o 20° lugar dentre as 25 maiores nações do mundo, segundo a American Council for an Energy-Efficient Economy.
Esse cenário precisa ser mudado e o propósito do “Programa de Eficiência Energética Garantida” é contribuir para isso.
Em nossa jornada de desenvolvimento do programa observamos que diversos fatores, hoje considerados obstáculos ao investimento em energia limpa e eficiência energética, podem ser apenas paradigmas, que são quebrados a partir do momento em que as instituições aprofundam esforços para a solução dos problemas de maneira prática e focada, evitando discussões meramente teóricas ou superficiais.
*Maria Netto é especialista líder em instituições financeiras do BID em Washington-DC.
Alexandre diz
Muito interessante. A participação da seguradora é inovadora e a participação da ABNT parece crucial par viabilizar a seguradora tomar esse risco. Tem rudo pra deslanchar e US$ 25MM poderá ser pouco!
Alexandre diz
Muito interessante. A participação da seguradora é inicadora, e a participação da ABNT parece crucial par viabilizar a seguradora tomar esse risco. Tem rudo pra deslanchar e US$ 25MM poderá ser pouco!