Flávio Ramos e Raquel Neris*
A Educash é uma das startups selecionadas no Demand Solutions de 2018, iniciativa do BID que reúne algumas das mentes mais criativas do mundo para escutar, inspirar, experimentar e compartilhar soluções inovadoras que estão melhorando vidas. Inscreva-se agora gratuitamente e participe do maior evento de inovação da América Latina, que acontece no Chile
Edu é um porquinho astronauta com a desafiadora missão de resolver problemas econômicos em outros planetas. Dessa vez, seu destino é o Planeta das Galinhas, em que terá de trabalhar para melhorar a produção de ovos e manter a perenidade da espécie.
Começando com apenas uma galinha, Edu deve, a cada dia, tomar decisões importantes, sabendo a hora certa de trocar ovos por milho, trocar milho por galinhas, usar o milho para alimentar as galinhas, ou ainda trocá-lo por cães de guarda, já que, a qualquer momento, algumas raposas podem aparecer em seu poleiro.
Essa história faz parte de “Edu no Planeta das Galinhas”, um dos episódios do Programa EduCash, abordagem pedagógica inovadora que utiliza games para desenvolver princípios de psicologia econômica e neuroeconomia com crianças, no contexto escolar.
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Embora pareça (e seja!) uma narrativa engraçada, que atrai crianças de forma lúdica, você poderia se questionar: o que será que galinhas, ovos e milho têm a ver com dinheiro? Na verdade, muito mais do que você imagina, e nós explicaremos em que sentido.
Ao apostar na ideia de que a agência, a imersão e a diversão são o melhor caminho para motivar a aprendizagem, propusemos uma solução que desenvolve princípios de psicologia econômica por meio de metáforas.
Diferentemente da maioria dos jogos sobre o tema, que geralmente apresentam situações concretas, como crianças que fazem a gestão de suas mesadas, propomos a vivência de situações-problema com fenômenos econômicos análogos aos da vida real, tais como fizeram as fábulas, por várias gerações.
De forma implícita, os episódios de EduCash envolvem fundamentos da gestão financeira, como geração de renda, poupança, orçamento, investimento, risco e retorno, valor do dinheiro no tempo, prevenção de patrimônio, entre vários outros assuntos.
Em outras palavras, o que geralmente é discutido apenas na vida adulta, nós traduzimos com um apelo lúdico para crianças, em histórias que permitem um aprendizado para a vida, ainda que com grande valor simbólico.
Diante desta abordagem, temos ainda dois aspectos interessantes que valem destaque. Primeiramente, ao trabalharmos com metáforas, não nos limitamos à representação de um perfil socioeconômico específico, tampouco a um perfil de família, o que evita o reforço de estereótipos que não retratam a realidade dos estudantes.
Ao mesmo tempo, como a experiência de jogo envolve a capacidade de leitura crítica da mídia, damos ao professor um papel fundamental de mediação, sendo sua responsabilidade ajudar os alunos a fazerem os paralelos das atividades de jogo com as situações financeiras do cotidiano.
Assim, a atividade do jogo não é o começo, meio e fim de tudo, mas o pontapé de uma jornada que envolve autoconhecimento, reflexão e debate em sala de aula, culminando em relações desse projeto com a vida familiar e comunitária.
Como tudo começou…
A crise financeira de 2008, ocasionada pelo estouro da “bolha imobiliária”, despertou em mim, Flávio Ramos, um desejo profundo de mudança: no auge dos meus 35 anos, eu então executivo de uma instituição financeira que acabara de tornar-se um dos maiores bancos na Europa, tomo uma decisão que transformaria não apenas minha carreira, mas minha vida definitivamente.
Ciente de uma situação econômica mundial que beirava a catástrofe do sistema financeiro mundial, entendi a dificuldade econômica que muitas famílias e países poderiam ter de enfrentar, diante de uma estatística alarmante: a maioria das pessoas sequer detém o controle de orçamento e não possui reservas de poupança para situações de mais aperto e emergências.
Sabia que a irracionalidade dos agentes econômicos também punia os menos favorecidos e pensava em como poderia contribuir para algo que trouxesse uma consciência no desenvolvimento de mais oportunidades à maioria e principalmente ferramentas educativas que estivessem à disposição de crianças e jovens, para preparar melhor as próximas gerações.
Sem educação, não há como surgir um novo mindset, pois ela é a forma mais segura de facilitar as pessoas atuarem com mais confiança, fazerem escolhas corretas e saberem contornar melhor os fracassos. O estabelecimento de nexos entre a vida escolar e o mundo do trabalho pode ser fator crucial para que as novas gerações percebam o significado do investimento em sua educação.
Desenvolvi alguns anos de consultoria em propostas de cadeias de negócios de impacto social e empreendedorismo, li muitos livros, fiz alguns cursos, até que em 2014, em evento ligado à tecnologias de educação transformadoras, encontrei a oportunidade de propor uma solução em educação financeira para estudantes, usando recursos digitais. Juntamente com Raquel Neris, designer e pesquisadora de tecnologias educacionais, propusemos iniciar a empreitada que resultou, em 2016, no Programa EduCash.
Hoje, o Programa EduCash conta com parcerias comerciais no Brasil e no exterior, grupos de ensino público e privado.
Raquel e eu acreditamos que a educação financeira desenvolvida em aprendizado por jogos não é um privilégio de alunos de escolar particular, mas a chance de identificar modelos de negócios que devem ser
democratizados, incluindo a grande maioria dos estudantes brasileiros, que estão nas escolas públicas. Entendemos que não existe uma fórmula mágica ou mesmo única para solucionar um problema de tal magnitude. O país precisa de uma liderança corajosa e eficiente que viabilize uma série de medidas transformadoras, que ataquem os problemas nas suas raízes.
É importante destacar que as soluções técnicas da educação 3.0 baseiam-se num valor muito claro: as inteligências do ser humano são diferentes umas das outras; as habilidades e competências do Luis não são as mesmas que as da Juliana. O objetivo não é enquadrar, e, sim, identificar, valorizar e ir ao encontro deste aluno como ele é. O objetivo é propiciar uma experiência inclusiva que aumente a esperança e crie, em cada aluno, o desejo de evoluir para ser, cada vez mais, ele mesmo. Essa é a razão de ser do Projeto EduCash.
Flávio Ramos é sócio-fundador da Educar 3.0, Flávio é ativista na organização de projetos de impacting investments para formação de redes colaborativas em educação. Desenvolveu consistente trajetória em multinacionais em Corporate Finance, avaliação de empresas, projetos e startups. Flávio tem MBA pelo Instituto de Empresa Business School em Madrid, é bacharel em Ciências Econômicas (UNICAMP) e Contábeis.
Raquel Neris é sócio-fundadora da Educar 3.0, Raquel é responsável pelo design instrucional e design thinking em programas de formação. Além de atuar na interface entre educação e tecnologias digitais, Raquel tem uma trajetória profissional extensa com design, envolvendo UX design, design gráfico e instrucional. Mestranda em Ciências da Comunicação (ECA-USP), é pós-graduada em Design de Interação com ênfase em Design Thinking (FIT) e bacharel em Publicidade e Propaganda (ECA-USP).
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