As tecnologias e equipamentos necessários para implementar energia solar estão ficando cada vez mais acessíveis. Entre 2010 e 2016, o custo total de um sistema médio instalado, incluindo todos os componentes de hardware e sistemas diminuiu 65%. A Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) estima que a energia solar deve crescer 44% no Brasil em 2019, especialmente com o impulso de geração distribuída, que é quando a instalação solar de um imóvel ou prédio está integrada à rede de energia elétrica.
Seja por investimento privado, ou por investimento público para prédios, escolas e hospitais, a energia solar tem tudo para desenhar um futuro brilhante no Brasil, e é sem dúvida um alavancador não apenas de consumo limpo de energia, mas também é um indutor de eficiência – sem desperdícios. Além disso, os benefícios socioeconômicos são grandes, já que este tipo de energia pode chegar facilmente a regiões de difícil acesso, o que pode ser de especial benefício aos milhares de brasileiros que ainda possuem um acesso precário à eletricidade, ou que usam combustíveis fósseis como fonte de geração elétrica.
Por que adotar energia solar em prédios públicos?
O pensamento natural é que a principal vantagem da energia solar é o custo mais baixo e a autonomia no abastecimento que essa tecnologia pode gerar, o que de fato ocorre. Entretanto, há uma vantagem mais estrutural do ponto de vista de gestão pública. Para adotar energia solar, os prédios públicos precisam antes aplicar ações de eficiência energética, que consiste em otimizar o uso de energia para fazer as mesmas coisas com um menor consumo, por exemplo: por meio da troca de lâmpadas antigas por lâmpadas LED de menor consumo, troca de equipamentos de ar condicionado (que nas regiões quentes podem ser a maior fonte de consumo), ou mesmo fazendo reformas nos prédios para melhorar o conforto térmico e diminuir o desperdício de energia. A nova postura baseada em eficiência energética é um ganho importante para a administração pública como um todo, porque cria condições para várias outras inovações, como a gestão automática de luminárias e temperaturas nos prédios, que já é possível com baixos investimentos.
Uma vez que os prédios tenham um consumo eficiente de energia, sem desperdícios, é possível pensar na instalação de sistemas fotovoltaicos, que podem contribuir para instalações ainda mais sustentáveis, tanto desde o ponto de vista ambiental, quanto do ponto de vista financeiro. À primeira vista, o custo de um sistema de geração distribuída pode parecer alto, mas o investimento em energia solar é de longo prazo, considerando que o ciclo de vida de um sistema fotovoltaico é de 25 a 30 anos. Considerando os preços atuais dos sistemas, e as tarifas elétricas, o retorno financeiro pode se dar em até em 5 anos! O excedente é só ganho.
O passo a passo
Para te ajudar a pensar todo o planejamento e implementação de sistemas fotovoltaicos, seja isolados ou conectados à rede, preparamos a edição especial da guia +SOL +LUZ para o Brasil, considerando as latitudes, nível de exposição de cada região ao sol, entre outras especificidades do país.
A guia apresenta como exemplo escolas públicas, mas o método pode ser utilizado para qualquer outro tipo de edifício público. Aqui te contamos os cinco passos principais para implementar energia solar, cujos detalhes estão na guia:
1. Análise da demanda. O primeiro passo é determinar qual a demanda que o sistema de geração vai cobrir. Neste passo é necessário enfatizar que antes devem se considerados os investimentos e otimizações em eficiência energética, para então quantificar a demanda. Dependendo do orçamento disponível, pode ser que um sistema fotovoltaico não cubra 100% da demanda, e pode ser dimensionado só para cobrir uma parte. Cada unidade de energia gerada pelo Sol já é um ganho, e os sistemas são facilmente escaláveis com futuros investimentos.
2. Análise financeira. Você precisa calcular os custos iniciais de um sistema fotovoltaico, a economia de energia que pode alcançar com a instalação dos painéis e o período de retorno simples, ou seja, o custo inicial do sistema fotovoltaico deve ser dividido pela economia anual. O valor resultante indicará o número de anos que serão necessários para pagar o investimento inicial. Quanto menos anos forem necessários, será mais atrativo, do ponto de vista financeiro, usar um sistema fotovoltaico. Com o barateamento dos custos dos sistemas e o encarecimento das tarifas elétricas, o período de retorno fica cada vez mais atrativo. Como exemplo, para uma escola com um consumo de 7,5 kWh por mês, é necessário um sistema de 50 kWp (dependendo da região pode variar o tamanho), com um investimento na ordem de R$200 mil. A economia mensal na conta é de R$3.000, o que dá um período de retorno de 5 anos e meio. Para sistemas maiores existem economias de escala – o custo por kWp e o período de retorno podem ficar ainda menores.
3. Definir onde instalar os painéis. São três os tipos de sistemas de montagem: no telhado, em postes e no solo. Para definir onde montar é importante entender as vantagens e desvantagens de cada um (disponíveis na guia). No telhado há menos possibilidade de sombra, mas é importante assegurar que a estrutura é resistente. A montagem em poste é mais recomendada para sistemas menores, enquanto a montagem no solo é fácil de instalar e manter, entretanto, é mais vulnerável à sombreamento futuro e a situações de vandalismo, dependendo da região.
4. Dimensionar os sistemas fotovoltaicos. Os cálculos geralmente são feitos por um profissional especializado, que vai avaliar a qualidade da rede elétrica, a demanda de energia do edifício, a quantidade média de irradiação solar, a quantidade de painéis necessários, e o tamanho do inversor, que é o equipamento responsável por assegurar que a energia gerada possa ser utilizada da mesma maneira que a energia fornecida pela rede.
5. Instalar o sistema. Os equipamentos consistem em: painéis fotovoltaicos, inversor, dispositivos de proteção, como fusíveis e disjuntores, e cabos, elementos muito importantes no sistema. A equipe instaladora deverá seguir uma série de medidas e normas internacionais e nacionais previstas na legislação brasileira, especialmente para os sistemas conectados à rede elétrica.
Uma vez instalado o sistema, as seguintes etapas compreendem operá-lo e mantê-lo, e nosso guia apresenta todos os detalhes. Caso você não consuma a totalidade da energia gerada, pode ganhar créditos de energia com a distribuidora com a energia excedente, criando uma nova economia circular baseada em energia limpa e práticas inovadoras.
O caminho para a um setor público que usa energia de maneira eficiente é possível e acessível, e leva a administração pública a um patamar mais consciente sobre o uso dos recursos naturais. Essa mudança de prática tem o poder de incentivar o setor privado e a população a fazer o mesmo, por isso o papel do setor público é essencial para impulsionar a agenda de eficiência energética, incluindo a geração da própria energia nos prédios públicos.
Jose De Oliveira Junior diz
Gostaria de uma análise sobre a diferença de prazo para o retorno dos investimentos feitos pelo Poder Público em energia solar, versus o mesmo investimento no setor privado, devido à diferente tributação entre os dois segmentos (no público, não há ICMS na conta de energia).