Anne Gander*
Uma das principais causas das mudanças climáticas é a emissão de altas concentrações de gás carbônico (CO2) ligadas às atividades humanas. Temperaturas mais altas do que as atuais, alteração nos regimes de chuvas, desertificação e o aumento na ocorrência de outros fenômenos climáticos extremos que afetam os ecossistemas são consequências de altas concentrações de CO2 na atmosfera, de acordo com avaliações científicas e estudos desenvolvidos em diferentes regiões do mundo. Entretanto, pouco se sabe sobre como altas concentrações de CO2 afetarão as florestas tropicais.
Caso a Amazônia perca grande parte de sua área florestal como preveem modelos climáticos, o bem estar social na região e a economia brasileira sofrerão importantes consequências. Reduzir as incertezas quanto à vulnerabilidade e respostas dos ecossistemas amazônicos em condições de altas concentrações de CO2 consiste em uma questão crucial para análises atuais e futuras do impacto das mudanças climáticas.
Uma teoria sustentada por parte da comunidade científica é a de que o aumento das concentrações de CO2 na atmosfera teria consequências positivas em termos de produtividade florestal, já que o CO2 constitui um dos principais elementos para produtividade primária. Esse fenômeno, conhecido como efeito de fertilização por CO2, é o ponto de partida para a implementação de experimentos chamados de “Free-air Carbon Enhancement Experiment—FACE”.
A tecnologia FACE é usada para simular condições futuras (veja infográfico), expondo ecossistemas a uma atmosfera enriquecida em CO2. Experimentos FACE estão sendo conduzidos para espécies agrícolas e florestas temperadas nos Estados Unidos, Austrália e em alguns países da Europa, e tem se mostrado um método importante para avaliar respostas de florestas temperadas à elevadas concentrações de CO2, porém nunca foi testado em florestas tropicais. Qual seria o limite de absorção de CO2 de uma floresta como a Amazônia? Que consequências sofreriam outros processos complexos abaixo e acima do solo?
Em abril de 2013 pesquisadores do Brasil, Estados Unidos e Europa se reuniram na sede do BID em Washington, e iniciaram a elaboração do Plano Cientifico do AmazonFACE. O Plano Científico foi publicado hoje no Brasil durante o lançamento oficial do projeto. Esse será o início da primeira fase de uma longa jornada científica que nos permitirá estimar, do solo às copas das árvores, o que o futuro reserva para nossas florestas e que direcionamento as políticas de desenvolvimento devem tomar na região amazônica.
*Consultora da Divisão de Mudanças Climáticas do BID no Brasil
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