De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 2030 e 2050, os efeitos das mudanças climáticas poderão provocar 25 mil mortes por ano. Dentre os efeitos, estão as doenças infecciosas e as pulmonares devido à poluição e alta concentração de CO2 na atmosfera, as ondas de calor que são consequência do aquecimento global e a falta de alimentos, causada por períodos de seca ou chuva prolongada. As mudanças climáticas oferecem uma ameaça ainda maior para países em desenvolvimento, especialmente aqueles que possuem uma economia fortemente atrelada à exportação de commodities agrícolas.
O Art. 225. Da Constituição Federal prevê que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. As mudanças climáticas vêm ameaçando o futuro do meio ambiente, e quem vai sentir na pele esse impacto são as futuras gerações. Um estudo da Market Analysis em parceria com a WIN Américas aponta que 7 a cada 10 crianças entre 3 e 13 anos de idade estão interessadas em proteger o meio ambiente. Nesse contexto, cada vez mais, as crianças e os jovens estão de conscientizando da importância que eles tem nesse processo.
O movimento #FridaysForFuture mobilizou crianças e jovens do mundo todo em prol de uma única causa: as mudanças climáticas. A greve global pelo clima começou, em agosto de 2018, com a jovem sueca de 16 anos, Greta Thunberg. Ela decidiu faltar a aula nas sextas-feiras para protestar sozinha em frente ao parlamento sueco com um cartaz que dizia “em greve escolar pelo clima.” Seu objetivo era e ainda é chamar atenção para a urgência de combater as mudanças climáticas. O movimento já alcançou mais de 130 países, 2 mil cidades e cerca de 2 milhões de pessoas.
Ao protestar em frente ao parlamento sueco, Greta demonstrou a importância dos processos políticos na tomada de decisão sobre as mudanças climáticas, cobrando ações concretas e dando voz à juventude. A sociedade civil exerce um papel crucial nesses processos, pois somos responsáveis por eleger àqueles que nos representam nos parlamentos e fiscalizar suas ações. Em Estados democráticos, a sociedade civil tem tido cada vez mais espaço para influenciar a formulação de políticas públicas.
No Brasil, é previsto por lei o envio de projetos de lei de iniciativa popular para a Câmara dos Deputados, exigindo apenas a assinatura de um por cento do número total de eleitores no país. A Lei da Ficha Limpa que torna pessoas inelegíveis para cargos eletivos caso tenham cometido crimes eleitorais foi resultado de um projeto de iniciativa popular, provando o quão importante é a participação política para o desenvolvimento de um país. O movimento de Greta tem em seu cerne a participação ativa dos jovens nas decisões políticas de um planeta que está sendo severamente atingido por alterações climáticas.
Juventude nas Conferências de Clima
O Brasil é país central nas discussões de mudanças climáticas porque sediamos no Rio de Janeiro, em 1992, a Cúpula da Terra, também conhecida como Eco-92 que originou a Convenção-Quadro das Nações Unidas pelas Mudanças Climáticas (UNFCCC). A partir a criação da UNFCCC, foram sendo realizados encontros anuais chamados de “Conferência das Partes” (COP) para debater a mitigação de gases de efeito estufa e a adaptação dos países aos efeitos climáticos. O Acordo de Paris, firmado entre 195 países para fortalecer o compromisso com o combate às mudanças climáticas, foi resultado da COP21, em Paris.
A juventude vem ocupando espaços estratégicos, oficialmente, desde 2009, quando foi fundado o Youth Constituency to the UNFCCC (YOUNGO), grupo formalizado pelas Nações Unidas para representar a juventude nas negociações de clima que integram jovens e novas organizações do mundo todo que atuam na área. Foram eles os responsáveis a redigir o Artigo 12 do Acordo de Paris que fala sobre a responsabilidade dos signatários em cooperar através da educação climática, conscientização e participação pública para potencializar as ações previstas no Acordo.
Educação climática também é uma das prioridades da ONG brasileira Engajamundo. A ONG faz parte da YOUNGO e integra as negociações de clima desde a COP19, com o intuito de formar jovens conscientes de seu impacto social e ambiental, capazes de participar efetivamente das decisões que podem impactar as suas comunidades, o país e o mundo.
Engajar a sociedade civil nos processos políticos que envolvem a definição de uma agenda climática é uma prioridade do Grupo BID. O relatório “Governments and Civil Society Advancing Climate Agendas” define “sociedade civil” como organizações e comunidades que não são afiliadas ao governo ou setor privado. O engajamento do governo com a sociedade civil resulta na coordenação de planos de ações estratégicos que são mais efetivos por esse componente da inclusão, que garantirá a implementação da agenda climática. Para tanto, o BID recomenda:
- Estabelecer metodologias capazes de medir o impacto do engajamento da sociedade civil com o governo para melhor avaliar o retorno da participação no processo decisório.
- Espaço para troca de experiências e lições aprendidas.
- Institucionalização de processos que promovam um diálogo inclusivo entre governo e sociedade civil para garantir apoio político de longo prazo.
- Coordenação de agendas para incorporar prioridades climáticas e de sustentabilidade nos planos do governo por refletirem o interesse da sociedade civil.
- Fortalecer parcerias entre governo e sociedade civil para a implementação de uma agenda inclusiva e inovadora.
A urgência das mudanças climáticas
O “efeito Greta” é parte de um movimento global de jovens que lutam por mudanças efetivas e urgentes. Nesse contexto, as redes sociais apresentam um papel crucial fortalecendo esses movimentos e servindo como ferramenta para estruturar e organizar processos internos. A Primavera Árabe foi um dos maiores exemplos de como as redes sociais podem impulsionar a participação e integração da população em prol de uma causa comum. A novidade trazida por Greta é que o #FridaysForFuture é liderado por crianças e jovens em países do mundo todo, com diferentes culturas e idiomas e que se sentem responsáveis por solucionar a crise climática e cobrar de seus governantes que façam o mesmo.
Em 2016, o Grupo BID assumiu o compromisso de aumentar o volume total de investimentos em 30% para projetos relacionados a mudanças climáticas, até 2020. A estratégia do Banco está alinhada aos compromissos estabelecidos no Acordo de Paris, pois visa a redução de gases de efeito estufa e o aumento da resiliência climática em cidades da América Latina. Em 2018, conseguimos alcançar 26,8% da nossa meta, e acreditamos que em breve chegaremos lá.
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