Uma abundância de recursos de energia renovável dá à América Latina e ao Caribe uma vantagem única que pode ajudar a região a se mover rapidamente em direção à meta de emissão líquida zero.
Quando dizemos ‘net-zero’, nos referimos a um termo definido no Acordo Climático de Paris de 2015 como um estado em que as emissões de gases de efeito estufa para a atmosfera são equilibradas por remoções para fora da atmosfera durante um período determinado.
O objetivo é evitar que a Terra ultrapasse o limiar de aquecimento global de 1,5°C. Para atingi-lo, as emissões antropogênicas (provenientes da ação humana) precisam ser reduzidas em 45% até 2030 e atingir o zero líquido até 2050.
Nesse cenário, os mercados mundiais, liderados pela União Europeia, estão se voltando para importações menos intensivas em carbono, implementando mecanismos tarifários que beneficiariam produtos com baixo impacto. Isso poderia aumentar a competitividade dos produtos fabricados na América Latina e Caribe na arena global, já que a região está bem abaixo de muitos de seus rivais em termos de emissões de gases de efeito estufa por unidade de eletricidade gerada. Ao analisarmos os fatores de emissão da rede elétrica dos 15 maiores exportadores de mercadorias para os Estados Unidos, por exemplo, podemos observar que os países da América Latina apresentam valores mais baixos que os demais, e mesmo abaixo da média.
É igualmente importante notar que a produção a partir de fontes renováveis tem registrado uma redução sustentada dos preços nos últimos anos. Por exemplo, o preço da energia fotovoltaica diminuiu 50% nos últimos 5 anos e, de acordo com a Agência Internacional de Energias Renováveis (IRENA), espera-se uma redução de até 59% em 2025, em comparação com 2015.
Além disso, a adoção de soluções em energia renovável por clientes corporativos tem aumentado ao longo dos anos, e atualmente cobre, em média, cerca de 30% da demanda de eletricidade.
Num contexto de net-zero, as emissões remanescentes devem ser compensadas durante o período de transição através da aquisição de créditos de dióxido de carbono ou da implementação de projectos de compensação. Isso representa uma grande oportunidade para gerar créditos a partir de soluções ambientais na região. Essas soluções podem ajudar o setor privado a se adaptar adequadamente aos impactos das mudanças climáticas. Além disso, esses mecanismos podem impulsionar a restauração de ecossistemas-chave, como a Bacia Amazônica.
O BID Invest tem ajudado os principais fabricantes regionais e instituições financeiras a avaliar e desenvolver suas estratégias, levando em consideração cenários de descarbonização baseados em metas nacionais, bem como as diretrizes setoriais desenvolvidas pela iniciativa Science Based Targets (SBTi) e as diretrizes da Iniciativa Financeira do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) para a Aliança Bancária por Zero Emissões Líquidas (NetZero Banking Alliance).
Até o momento, apenas 11 dos mais de 600 bancos da América Latina e do Caribe fazem parte da Aliança. Da nossa experiência de trabalho com os setores corporativo e financeiro sobre estas questões, pudemos extrair as seguintes lições:
- A contabilidade de emissões e o cálculo das metas de descarbonização estão muito além do conhecimento e da experiência de nossos clientes. Portanto, é necessário desenvolver capacidades com pessoal especializado e fornecer suporte por meio de ferramentas automatizadas.
- Embora existam diretrizes e princípios validados, há uma falta de conhecimento técnico para aplicá-los à linha de negócios dos clientes e para sistematizar as práticas.
- Esta tendência global surgiu e foi testada principalmente em países desenvolvidos. No entanto, aplicá-la aos países da região apresenta grandes desafios, uma vez que os setores produtivos e o nível de sofisticação tecnológica na região são diferentes. Isso se reflete na carteira de instituições que adquiriram ativos de transição de combustíveis fósseis. Como eles estão em uma fase inicial de reembolso de empréstimos (normalmente durante um período de 10 anos), é improvável que sejam capazes de liquidá-los em breve. Estas condições únicas na América Latina e no Caribe determinam em grande medida a velocidade de transição para uma carteira de baixas emissões, uma vez que as instituições investem em países específicos e não noutros.
- Outro desafio básico, mas significativo, é que os países em desenvolvimento precisam de crescimento econômico. O crescimento exige um aumento do financiamento, ou seja, da dimensão da carteira, resultando inevitavelmente num aumento das emissões da carteira comparada à linha de base. Neste caso, é importante usar metas baseadas na intensidade de GEE por unidade monetária na carteira — um indicador mais claro do esforço de redução de emissões. Essa recomendação é particularmente importante para os instrumentos financeiros ligados à sustentabilidade ou à descarbonização.
Cabe ao setor bancário e empresarial adaptarem-se, garantindo o acesso a instrumentos financeiros e tecnológicos que apoiem a descarbonização, bem como a serviços de assessoria, comunidades de conhecimento e ferramentas automatizadas para “traduzir” a ciência climática, facilitá-la e acelerar a sua implementação.
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