Levar às mulheres gestantes e suas famílias informações oportunas, bem como recursos e estratégias de apoio durante e após a gestação, é um dos principais passos na promoção de um ambiente ideal para o desenvolvimento de meninos e meninas. Embora haja um surto de inovações no acompanhamento durante a gestação e o puerpério, é importante saber aproveitar a tecnologia e outras ferramentas para beneficiar a saúde da mãe e do seu bebê.
As tecnologias da informação e comunicação, especialmente os telefones celulares, são uma ferramenta eficaz para proporcionar esse tipo de apoio, como evidenciado pelo sucesso do programa de mensagens de acompanhamento por WhatsApp, implementado no Uruguai.
A importância do acompanhamento no cuidado materno
O parto prematuro continua sendo um fator determinante da morbidade e mortalidade infantil em todo o mundo. As complicações do parto prematuro são a principal causa de morte entre crianças menores de 5 anos e uma das principais razões por trás de problemas neurológicos, visuais, auditivos, motores, comportamentais e de aprendizagem em crianças. Por sua vez, a depressão materna durante a gestação e o puerpério é um fator de risco para o desenvolvimento socioemocional e cognitivo da criança, com incidência em torno de 15% na população geral, podendo ser ainda maior em contextos de vulnerabilidade social.
O telefone celular permite acesso rápido, direto e sustentável a recursos de informação e orientação, que podem ser extremamente úteis para as mulheres e suas famílias. Além disso, por meio dessa tecnologia, as instituições encarregadas do bem-estar e da saúde das mães e de seus filhos pequenos podem disseminar facilmente essas informações, e até mesmo personalizar mensagens e recursos de apoio.
A experiência do programa de chatbot para WhatsApp no Uruguai
Em 2018, foi implementado no Uruguai o “Parentalidade Positiva”, um programa de acompanhamento de mensagens parentais via WhatsApp, para famílias com crianças entre 0 e 3 anos. O programa aumentou o tempo de envolvimento dos pais em atividades didáticas e físicas com seus filhos, intensificou a procura de apoio social, fortaleceu a autoeficácia parental e melhorou a qualidade das interações de linguagem.
Esses resultados levaram o governo a considerar a possibilidade de intervir mais precocemente e, para tanto, foi elaborado um programa que acompanha a gestante e sua família desde o primeiro contato com o sistema de saúde. A intervenção é implementada por meio de um chatbot para WhatsApp ao qual se conectam a mulher e seu parceiro (ou outro(a) acompanhante de sua escolha), e que oferece informações, propostas de atividades e reflexões por meio de dois canais: mensagens periódicas; e um menu suspenso interativo.
O conteúdo entregue por meio do chatbot e as mensagens de texto baseiam-se em três pilares da gestação positiva:
- Promover hábitos saudáveis (atividade física, alimentação saudável) e desencorajar o consumo de substâncias tóxicas;
- Contribuir para um estado mental e emocional saudável; e
- Fortalecer os laços familiares e as redes de apoio protetoras.
Personalização e reflexão: chaves para o sucesso em um programa de mensagens
As mensagens são enviadas três vezes por semana em formato simples, atraente e personalizado, dirigindo-se à mulher ou ao parceiro pelo nome. Também estão associadas à idade gestacional e variam conforme o estado emocional da mulher.
Em particular, uma vez por semana pergunta-se à mulher como ela se sentiu na semana anterior (o que chamamos de “termômetro emocional”). As mensagens subsequentes são ajustadas de acordo com a resposta à pergunta do termômetro. A personalização das mensagens é alimentada por uma breve entrevista telefônica com a gestante, no início do programa.
O desenho da intervenção baseia-se em conceitos da economia do comportamento:
- Busca ressaltar os benefícios futuros de comportamentos atuais que fortalecem o desenvolvimento infantil e a saúde materna;
- Direciona a atenção dos pais para atividades de fácil implementação e que não exigem grande esforço cognitivo; e
- Gera instâncias de reflexão sobre o estado emocional e oferece ferramentas práticas para o autocuidado e a promoção da saúde mental. O conteúdo da intervenção está alinhado com as informações geradas pelo Ministério da Saúde Pública do Uruguai, pelo Ministério do Desenvolvimento Social e pelo Unicef.
Atualmente, estamos em plena execução de um experimento randomizado para avaliar o programa. Os resultados qualitativos obtidos nos grupos focais indicam que as mulheres valorizam as mensagens e informações fornecidas e se sentem mais acompanhadas. No futuro, esperamos compartilhar os resultados dessa pesquisa e seus aprendizados.
Esse projeto é apoiado pelo Fundo de Inovação para o Desenvolvimento da Primeira Infância, uma parceria para financiar, criar, implementar e avaliar soluções inovadoras e escaláveis para melhorar a vida das crianças na América Latina e no Caribe (ALC). O Fundo é coordenado e administrado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em parceria com a Fundação FEMSA, a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, a Open Society Foundations e a Porticus, com o apoio da Fundação Bernard Van Leer.
Saiba mais sobe esse projeto de tecnologia, maternidade e saúde e outras inovações no Hub de Conhecimento em Desenvolvimento da Primeira Infância e compartilhe seus comentários usando a hashtag #hubdesenvolvimentoinfantil
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