Vanderléia Radaelli *
Tanto a Organização Mundial do Comércio (OMC) como o Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciaram na semana passada suas projeções de expansão de comércio internacional e da economia mundial: 3,3% e 3,5%, respectivamente.
O relatório do FMI[1] divulgado no dia 14 de abril destaca uma queda de 1% nas previsões do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e uma taxa de inflação de 7,8% neste ano –, acima do teto da meta do governo de 6,5%. De acordo com o FMI, enquanto Estados Unidos e Europa vêm se recuperando da crise recente, a América Latina e o Caribe deverão registrar pelo quinto ano consecutivo desaceleração econômica.
O cenário adverso com respeito ao desempenho das economias da região está em consonância com aquele identificado pelo BID: reduzido espaço para implementação de políticas de longo prazo devido à deterioração do quadro fiscal, queda no preço das commodities agrícolas e metálicas (38% e 45% desde setembro), desaceleração chinesa, redução no ímpeto dos investimentos de infraestrutura, baixa produtividade e competitividade, aumento dos juros, redução de crédito, etc.
Na média, os países emergentes deverão crescer 4,3% em 2015. Dentre esses, Rússia e Brasil sofreram as maiores reduções nas expectativas da economia. O primeiro, em parte pelas sanções internacionais e pela queda no preço do gás. No caso do Brasil, as previsões do Fundo indicam que o país terá um crescimento negativo de 1% em 2015 e, em 2016, teve sua projeção reduzida de 1,5% para de 1%.
Em que pesem as questões macroeconômicas no desempenho brasileiro, também contribuiu negativamente sobre o ímpeto da economia a investigação na Petrobrás e a necessidade de promover reformas estruturais. Segundo o relatório – ainda que as políticas fiscal e monetária estejam na direção correta em restabelecer credibilidade internacional – permanecem os desafios da desconfiança do setor privado e o consequente baixo estímulo ao investimento, os riscos de racionamento de água e energia e os desafios relacionados à competitividade.
Existe um intenso debate sobre qual é a melhor estratégia para reativar a demanda agregada no curto prazo a fim de mitigar os efeitos negativos e favorecer a superação das crises tanto interna como externa. As soluções discutidas passam por políticas monetárias ou políticas fiscais expansionistas ou a combinação de ambas. Entretanto, essas soluções devem também devem levar em conta elementos de natureza estrutural e específica a cada país. Estruturas de produção, inovação e de formação de recursos humanos devem ser tomadas em conta na estratégia de combate a crises econômicas, assim como as questões culturais, sociais e econômicas internas que podem afetar a implementação dessas soluções.
É pouco provável que a ampliação das exportações venha a ser o vetor principal de recuperação da atividade econômica individual das economias devido à maior integração das economias globais tanto em termos financeiros quanto produtivos e à crescente importância do setor de serviços e de tecnologias de informação.
As crises econômicas não são uma novidade para nossos países[2]. As crises anteriores mostraram que o que irá se sustentar na fase da ascensão é a capacidade das economias em manter uma base doméstica suficientemente hábil em interpretar as mudanças nos fatores-chave da competição, traduzida nos produtos, tecnologias ou na forma em que as empresas captam, assimilam e incorporam os distintos conhecimentos gerados e disponibilizados em escala global. O estabelecimento de políticas próprias de contenção e de recuperação das crises deveria estar mais presente no desenho das políticas nacionais e, especialmente, daqueles países com deficiências em infraestruturas científicas e tecnológicas e com instabilidade de recursos financeiros.
[1] O relatório completo encontra-se disponível em: www.imf.org
[2] O próprio FMI divulgou um estudo examinando os principais ciclos econômicos desde os anos 1960 para uma amostra de 21 países avançados. Ainda que neste período tenha se verificado maior incidência de expansão e num ritmo mais acelerado do que as recessões prolongadas constatou-se a ocorrência de 15 recessões ligadas ao sistema financeiro sendo que nas recessões dos anos 1975, 1980 e 1993 as recessões foram sincronizadas e envolveram mais de 10 das economias estudadas.
* Vanderléia Radaelli é especialista sênior na Divisão de Competitividade e Inovação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
[1] O relatório completo encontra-se disponível em: www.imf.org
[2] O próprio FMI divulgou um estudo examinando os principais ciclos econômicos desde os anos 1960 para uma amostra de 21 países avançados. Ainda que neste período tenha se verificado maior incidência de expansão e num ritmo mais acelerado do que as recessões prolongadas constatou-se a ocorrência de 15 recessões ligadas ao sistema financeiro sendo que nas recessões dos anos 1975, 1980 e 1993 as recessões foram sincronizadas e envolveram mais de 10 das economias estudadas.
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