O desafio do uso de big data para a democracia digital

Ambientes cada vez mais dinâmicos exigem que instituições e pessoas se adaptem frequentemente. A todo tempo produzimos dados que são capturados em pesquisas online, compras pela internet, comportamentos de mobilidade, assim como em interações sociais em rede. Em 2016 nós produzimos tantos dados quanto a história da humanidade até 2015. Hoje, estamos cercados de objetos e serviços que nos conectam ao mundo virtual produzindo cenários sobre um presente em tempo real ou sobre um futuro previsível baseado na lógica de algoritmos.

Por exemplo, temos smartphones, smart casas, carros autônomos, smart cites e mais uma porção de outras coisas que fazem essa interface real-virtual. A previsão é de que em 2020 haverá 6,58 dispositivos conectados para cada pessoa e mais de 75 bilhões de objetos conectados no mundo. Grandes empresas do mundo virtual trabalham como mercadores de atenção: elas oferecem “gratuitamente” uma série de ferramentas para o dia-a-dia, entretenimento, etc., e com isso capturam a atenção dos usuários, vendendo-a para anunciantes. Apesar de faturarem com esse modelo de negócio, essas empresas sabem que o ponto mais importante e sensível de todo o processo consiste na obtenção de dados sobre o usuário e esforçam-se consideravelmente nesse intento.

Hoje, os dados são considerados o petróleo do século XXI. Com o avanço da revolução digital, muitos negócios estão mudando a forma como trabalham e entregam produtos e serviços. Além disso, o ecossistema de inovação, que compreende negócios tecnológicos, incubadoras e aceleradoras de empresas, e mecanismos de fomento direcionados, tem ganhado cada vez mais força. Atualmente, mais 70% das transações financeiras são feitas a partir do uso de algoritmos, 40% das maiores empresas serão banidas na próxima década e nesse sentido, criar estratégias para requalificar trabalhadores para os empregos do futuro é fundamental. Por exemplo, a utilização de algoritmos cada vez mais sofisticados capazes de reconhecer com precisão os interesses dos usuários tende a diminuir a necessidade de anúncios, que constituem a maior parte da receita de empresas como Google e Facebook: se já sabemos de antemão o que o consumidor deseja, não precisamos gastar com propagandas.

Os benefícios da conectividade são inegáveis, entretanto quanto mais conectado o país está, mais exposto ele fica ao ciberespaço e por isso torna-se necessário criar mecanismos de proteção mais robustos e sofisticados para a segurança virtual dos usuários. Em 2017, o Brasil passou a ser o segundo país com maior número de casos de crimes cibernéticos, afetando cerca de 62 milhões de pessoas e causando prejuízos de US$ 22 bilhões. Recentemente publicamos aqui no Ideação como o Brasil e outros países estão protegendo os dados dos cidadãos, numa tentativa de equilibrar a relação usuário-empresas e/ou usuário-agências governamentais.

Democracia digital

Com a motivação de usar dados para o bem comum, para o bem-estar humano, a iniciativa Data for Humanity estabeleceu um código de ética para uso de big data pelos usuários com cinco fundamentos:

1. Não fazer mal.
2. Garantir que os dados sejam utilizados de tal forma que os resultados promovam a coexistência da humanidade.
3. Usar dados para ajudar pessoas vulneráveis ​​e pessoas necessitadas.
4. Usar dados para preservar e melhorar o meio ambiente.
5. Usar dados para ajudar a criar um mundo justo sem discriminação.

Nesse sentido, a tecnologia deve ser direcionada para o desenvolvimento de soluções inteligentes para os problemas da sociedade, capazes de harmonizar valores como eficiência, segurança e sustentabilidade. Enxergar a relação humano e inteligência artificial como uma rede de cooperação e democracia digital é o caminho para se criar uma inteligência coletiva com a participação dos cidadãos, academia, sociedade civil, setor público e privado.