A indústria de dessalinização oferece uma alternativa eficaz para responder à escassez de água na região da América Latina e Caribe, especialmente em um contexto em que é essencial envolver o setor privado, desenvolver e estruturar projetos eficazes que atendam às necessidades sociais.
Para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável até 2030, a América Latina e o Caribe (ALC) precisam investir mais de US$ 370 bilhões nos setores de água e saneamento.
Em um contexto macroeconômico e fiscal complexo, em que a dívida nacional total da América Latina passou de US$ 3 trilhões em 2008 para quase o dobro hoje (US$ 5,8 trilhões, equivalentes a 117% do PIB), é difícil exigir um compromisso maior de governos. Diante desse cenário, soluções que envolvam o setor privado e o apoio de instituições multilaterais de desenvolvimento devem ser buscadas com urgência, para garantir que esses investimentos sejam eficientes, sustentáveis, inovadores, fiscalmente responsáveis e, que estejam continuamente voltados para projetos que respondam de maneira direta e otimizada ao interesse público e, posteriormente, aos objetivos de desenvolvimento, crescimento e igualdade.
Muitos podem até se surpreender com a necessidade de investir em usinas de dessalinização, uma vez que, a América Latina é a região mais rica em água do mundo, abrangendo cerca de 32% dos recursos hídricos renováveis globais. Todavia, a desigualdade é tão presente aqui quanto em outras áreas: 35% da população da região vive em áreas com estresse hídrico de médio-alto a extremamente alto e 60% enfrenta risco hídrico. Um exemplo da incapacidade institucional de preservar a prestação de serviços de qualidade.
Perspectivas de dessalinização de água na região
Isso se deve, em parte, ao fato de que um em cada três habitantes na América Latina e Caribe vive em áreas costeiras. Com os níveis esperados de crescimento populacional, o consumo de água doméstica, agrícola e industrial vai disparar. Esse problema precisa ser resolvido através de três principais linhas de ação: uso mais eficiente dos recursos (economia de consumo, redução de vazamentos, reutilização), exploração de águas superficiais (reservatórios, represas, rios, águas subterrâneas) e dessalinização.
Até o momento, as tecnologias de dessalinização têm sido amplamente utilizadas e desenvolvidas em países como a Espanha. Em uma conferência realizada em março, organizada em conjunto pelo Escritório de Concessões Nacional do Ministério de Obras Públicas do Chile e o Grupo BID, a AEDyR (associação espanhola de dessalinização e reuso) afirmou que um quinto da produção da sua região é utilizada para a agricultura. Na verdade, a primeira usina de dessalinização da Europa foi instalada nas Ilhas Canárias em 1964.
Especialistas de Israel, Estados Unidos, Austrália e Oriente Médio também apresentaram suas descobertas na conferência, assim como vários representantes da América Latina e Caribe, incluindo AEDyR, Sacyr, Almar Water Solutions, Mekorot, Mitsui, IDE Water Technologies e a Sociedade de Dessalinização de Israel.
Workshop PPPs em plantas de dessalinização de água
Muitos estiveram envolvidos na estruturação de concessões no Peru (Proinversión e Sedapal), Brasil (Unidade de PPP da Secretaria do Planejamento e Gestão do Estado do Ceará e Companhia de Água e Esgoto do Ceará) e Chile. Curiosamente, a primeira usina de dessalinização industrial do mundo foi instalada nesse país no final do século XIX como um recurso para a indústria mineradora. Hoje, o Chile está explorando o potencial de desenvolver concessões em usinas de dessalinização multiuso.
De acordo com a empresa Almar Water Solutions, os megaprojetos de dessalinização multiuso para uso municipal, industrial e agrícola estão crescendo atualmente – principalmente na região do Golfo, Oriente Médio e Norte da África – por meio de esquemas tradicionais de concessão ou PPPs. A Associação Espanhola de Dessalinização e Reutilização – (AEDyR) e a Sacyr Engenharia e Infraestruturas explicaram como os desafios da dessalinização tradicional foram superados por meio do progresso tecnológico sustentável.
O consumo de energia para dessalinização foi reduzido significativamente, para um quinto dos níveis de consumo de 1970. Isso reduziu o custo da água – o preço atual da água dessalinizada é inferior a um dólar por metro cúbico em comparação com a água engarrafada, que é quinhentas vezes maior.
O setor evoluiu, tornando a dessalinização uma alternativa competitiva em áreas onde não existia e oferecendo esquemas de concessão para garantir o desenvolvimento, operação e prestação de serviços de qualidade. No entanto, devemos sempre ter em mente que o único custo inacessível é não ter acesso à água. Portanto, a discussão deve se concentrar em buscar uma alternativa que proporcione o acesso à água da forma mais eficiente e sustentável.
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