Na estreia da segunda temporada de Caminhos para o Turismo conversamos sobre afroturismo. Mais do que apenas um segmento turismo mundial, o turismo afro ou afroturismo vem promovendo conhecimentos sobre a cultura negra, expandindo o turismo para novos territórios e com novas narrativas, promovendo a inclusão e diversidade, além de ser um instrumento único para questionar estereótipos e comportamentos racistas. A partir do acesso a conhecimento e a vivência de aspectos da história e da cultura negra, com experiências lideradas pela população negra, o afroturismo pode abrir novas possibilidades para a redução de desigualdades.
Nesse episódio ouvimos histórias e perspectivas fascinantes, que falam também datrajetória pessoal e profissional de três convidados: Gabriela Palma, a fundadora da empresa de turismo Sou Mais Carioca; Sauanne Bispo, ativista corporativa e fundadora da IDentity Travel; Carlos Humberto da Silva Filho, fundador da Diáspora. Além de liderarem seus negócios, Gabriela, Sauanne e Carlos Humberto são parceiros no esforço comum de construir caminhos para um turismo mais sustentável, por meio do afroturismo. Eles colaboram ativamente para ampliar o posicionamento da população negra no setor, seja ajudando a criar oportunidades iguais para a atuação no turismo, seja promovendo produtos e experiências turísticas com maior diversidade. Se por um lado os desafios ainda são enormes quando a tarefa é eliminar a desigualdade racial, algumas lições que ouvimos durante a conversa nos ajudam a enxergar caminhos para o futuro do turismo e, mais especificamente, do afroturismo:
O afroturismo é um mercado grande e rentável
O afroturismo tem um mercado com enorme potencial para gerar emprego e renda, mesmo se considerado apenas o potencial de viajar da população negra. Várias pesquisas mostram o poder do gasto turístico e o tamanho que esse mercado tem. Um recente estudo identificou que turistas negros americanos gastaram quase US$130 bilhões em viagens domésticas e internacionais em 2019. Só entre os “millenials” nos Estados Unidos, existem quase 5 milhões de jovens negros (entre 20 e 36 anos) com intenção de viajar a turismo. No Brasil, onde pretos e pardos representam 54,7% da população segundo o IBGE, é inegável o potencial de mercado evidente em uma fatia populacional tão ampla. Nestes estudos, os pesquisadores também identificaram que os turistas negros estão mais atentos em como os destinos e operadores turísticos estão incorporando diversidade em suas operações e baseiam nisso suas decisões de viagem. Infelizmente, o protagonismo de pessoas negras em peças de publicidade ou propagandas no setor é incipiente e não há informações sistemáticas sobre o mercado brasileiro de afroturismo, pautas a serem perseguidas no futuro.
O afroturismo traz empoderamento econômico e social
Não obstante os dados disponíveis sobre a representatividade da população negra no setor de turismo indicarem uma participação ainda baixa, o afroturismo é uma ferramenta para aumentar a representatividade e o empoderamento econômico e social da população negra, pensando tanto desde a perspectiva da oferta (empreendendo no setor), como da demanda (viajando). Existe um ciclo virtuoso que o afroturismo proporciona no qual é possível tanto prover experiências de qualidade direcionadas aos turistas, ao mesmo tempo em que se apoiam negócios e atividades turísticas lideradas e protagonizadas por pessoas negras. Essas experiências turísticas geram um efeito positivo que vai além apenas do financeiro e toca em aspectos de igualdade e representatividade, justiça social e outros atributos não monetizáveis.
O afroturismo gera externalidade positivas no âmbito da igualdade racial
O autoconhecimento e o reconhecimento da identidade negra apoiam um sentido de comunidade que vai além da experiência turística. O afroturismo pode estimular um certo ativismo racial, já que chama a atenção para aspectos presentes na realidade local que muitas vezes não fazem parte das narrativas tradicionais das viagens e podem tanto incentivar uma maior valorização cultural por parte da população local, como contribuem para a autoafirmação dos que viajam. Nas palavras de Sauanne Bispo, “eu não vou à África para ver animais, eu vou para ser uma pessoa…Lá não sou uma mulher negra, lá eu posso ser apenas Sauanne Bispo”.
Isso é só um resumo de uma conversa rica e esclarecedora. Não deixe de ouvir o episódio completo em nosso canal no Soundcloud. E, se quiser se aprofundar em alguns dos assuntos mencionados pelos convidados, aqui estão algumas referências:
Boletim Sebrae sobre Afroturismo
Blogpost: A hora e a vez do afroturismo – Lições e inovações do Prodetur Salvador
Livro História da África e do Brasil Afrodescendente[BVJ1] , de Ynaê Lopes dos Santos
Entrevista com Sauanne Bispo na revista Forbes
Estudo The Black Traveler: Insights, Opportunities & Priorities, da MMGY Travel Intelligence
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