https://vimeo.com/73868246
Com instrumentos feitos de material encontrado no lixo, orquestra executa a celebre composição de Tom e Vinicius.
Lixo, segundo uma das definições contidas em um dicionário, é “tudo aquilo que perdeu o valor e pode ser jogado fora”. Muitas vezes definições pertencem a uma época e com o avançar dos anos acabam por ser recicladas. Num futuro próximo talvez seja possível encontrar o verbete lixo acompanhado da descrição: substantivo masculino. 1. Material que vira arte; 2. Elemento que pode aproximar as pessoas e criar senso de comunidade; 3. Fonte de renda.
Na realidade, exemplos de que o lixo precisa ser encarado de outra(s) maneira(s) só aumentam. E, não raro, surgem de lugares quase ignorados, como Cateura, o maior aterro do Paraguai. Tudo começou quando, os moradores locais, após assistirem a uma apresentação de músicos que foram ao lixão levados por um técnico em reciclagem, demonstraram tristeza pelo fato de que seus filhos jamais teriam recursos para aprender música, já que vivem num lugar onde instrumentos musicais são mais caros que casas.
O técnico em reciclagem encontrou no lixo a solução para o problema. Instrumentos foram criados com latas de óleo, tambores que servem para armazenar combustível, carcaças de instrumentos usados, talheres e até moedas. A ideia uniu a comunidade, atraiu voluntários e deu novo sentido a vida dos jovens de Cateura. Alguns recentemente apresentaram-se pela primeira vez fora do Paraguai.Nos Estados Unidos, onde tocaram de Beatles até Garota de
Ipanema, emocionaram muita gente.
Graças à música, alguns agora estudam e podem sonhar com um futuro melhor. O aterro de Cateura, no entanto, ainda existe, um lembrete de que há muito que avançar no nosso entendimento do que é lixo, de como tratá-lo, como reciclá-lo.
A história da orquestra paraguaia lembra em muitos pontos à do excelente documentário “Lixo Extraordinário“, que revelou para o mundo outra faceta do agora desativado aterro do Jardim Gramacho, no Rio. Em ambos os casos, a arte humanizou personagens reais acostumados, eles mesmos, a serem tratados como descartáveis. Atualizar o verbete do dicionário e a maneira como encaramos o lixo se faz cada vez mais necessário.
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