Grande parte da literatura sobre economia da educação foca em como a combinação de insumos, incentivos e estruturas institucionais se traduzem em melhores resultados educativos, na acumulação de capital humano e, no longo prazo, em salários mais altos e crescimento econômico. Já análises sobre fatores externos como a disponibilidade de água potável, segurança pessoal ou a existência de redes de eletricidade confiáveis são mais raros.
“Relação entre o acesso à água e o rendimento escolar, o que não foi feito até agora”, trabalho recente feito no Brasil, ajuda a fechar essa lacuna. As autoras Julia Alexa Barde e Juliana Walkiewitcz, da Universidade de Freiburg, estudaram se alunos da quarta série (com média de idade de 10,8 anos) tinham acesso à água corrente em suas casas no momento da realização das provas de avaliação do ensino fundamental, entre 1999 e 2005. O estudo baseia-se em dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
O efeito da disponibilidade de água corrente no resultado das avaliações é significativo e explica o desvio de 11 pontos porcentuais na pontuação das provas, efeito que é maximizado de acordo com o nível de escolaridade da mãe, especialmente entre famílias de renda mais baixa.
A estratégia de identificação dos resultados baseia-se em um modelo de regressão no qual os resultados padronizados dos exames são uma função do acesso à água em domicílio e de um vetor de variáveis de controle relacionados com a condição econômica da criança, entre outros fatores. As autoras reconhecem que a estratégia de identificação não é absolutamente segura do ponto de vista metodológico (quando se trata de estabelecer casualidade), uma vez que não dispõem de um bom instrumento para medir o acesso à água e que os dados utilizados “não são experimentais e não permitem um desenho de regressão descontínua”.
Questões metodológicas à parte, o fato de se ter acesso à água corrente em casa está positiva e significativamente relacionado com a obtenção de melhores resultados nos exames (como demonstram os 11% de desvio padrão nos resultados). O acesso à eletricidade também tem correlação positiva com os resultados e justifica quase 22% de desvio padrão nas pontuações das provas – duas vezes mais que no caso da água encanada.
Os resultados são importantes já que, pela primeira vez, estabelece-se a conexão direta entre o acesso à água potável e os resultados educativos, ainda que a estratégia de identificação não permita estabelecer uma relação causal.
* Francisco Mejía é economista do Departamento de Planejamento Estratégico do BID. Ele esta no Twitter @franciscome
** A versão original desse post foi publicada no blog Desarrollo Efectivo do BID
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