2021 marcou a primeira década do Plano de Ação Global de Segurança no Trânsito. Após uma década de trabalho na América Latina e no Caribe, forma feitos progressos significativos nas políticas públicas de segurança viária, e melhoras na análise e pesquisa dessa questão complexa. Porém, os resultados dos indicadores têm sido desfavoráveis.
Segundo um relatório do BID publicado em 2023, os esforços dos países da região têm sido insuficientes para conter o aumento das taxas de mortalidade, que são estimadas em 18 vítimas por 100.000 habitantes.
Um dos apelos deste relatório, no período que antecede a Segunda Década de Ação pela Segurança no Trânsito (2021-2030), é incentivar países e cidades a investirem em pesquisas orientadas por dados. Essa abordagem procura identificar os principais riscos e as áreas prioritárias para “impactos mais rápidos e significativos, ao mesmo tempo em que se trabalha holisticamente para tornar o sistema de mobilidade mais seguro”. Isto reflete os eixos de acção da primeira década, que tinham como objetivo fazer uso de tecnologias para complementar e reforçar a eficácia dos sistemas de promoção da segurança viária.
Em 2022, o BID lançou a ViaSegura, uma ferramenta baseada em Inteligência Artificial (IA) que viabiliza a detecção de elementos de segurança viária, como ciclovias, delineação, condição do pavimento, acessos, interseções, iluminação, entre outros, a fim de melhorar a tomada de decisões e a priorização de investimentos para melhorar a segurança viária. A ferramenta usa modelos treinados e visão computacional para pontuar 14 atributos, com base nos padrões do iRAP (International Road Assessment Programme), a organização credenciada pelas Nações Unidas pela promoçao da segurança viária. A ferramenta usa modelos treinados e visão computacional para pontuar 14 atributos, com base nos padrões do iRAP (International Road Assessment Programme), a organização credenciada pelas Nações Unidas para promover a segurança viária. A ferramenta reduz em aproximadamente 30% o tempo gasto na classificação dos elementos de segurança viária e o número de pessoas envolvidas.
Após seu lançamento, a ViaSegura tem sido utilizada em 5 países da região da América Latina e do Caribe, com o apoio do BID, avaliando mais de 60.000 quilômetros de estradas, permitindo que agências rodoviárias, governos e outras entidades melhorem a segurança de milhares de pessoas. Sua utilização tem permitido encaminhar os investimentos em infraestrutura rodoviária de forma idônea, preservando a integridade física de pedestres, motoristas, ciclistas e motociclistas.
A ferramenta encontra-se disponível como código aberto na plataforma Code for Development (Code4Dev) do BID, onde os usuários podem descobrir e reutilizar livremente as bibliotecas. Por meio dessa plataforma, também foram realizados diversos treinamentos para os interessados em usar a ferramenta, com mais de 200 pessoas treinadas, que também podem se conectar e dialogar por meio da comunidade Slack de Code4Dev.
Além disso, a ViaSegura foi incluída no site do iRAP, na seção de Ferramentas, na categoria Escaneamento de Modelo. Dando continuidade à inovação, o iRAP tem colaborado com outros parceiros internacionais em projetos semelhantes, como o projeto AiRAP, para aproveitar as possibilidades trazidas pelo uso de IA, aprendizado de máquina e outras fontes de dados, como telemática ou LIDAR.
Isso comprova que o uso de tecnologias emergentes é uma tendência irreversível, que já começa a dar sinais de sucesso no gerenciamento da infraestrutura rodoviária na região e fora dela. Essas ferramentas são apenas o começo das amplas possibilidades que trazem para sistemas de transporte sustentáveis e seguros, servindo como lições aprendidas nos dois anos de utilização do VíaSegura.
Lições aprendidas
- A adoção de ferramentas tecnológicas com processos de transferência de conhecimento aos usuários. Para aproveitar ao máximo o potencial da IA, é essencial ter pessoal com talento digital nos órgãos de gerenciamento de infraestrutura.
- O uso ad hoc da tecnologia é muito útil, mas ter equipes internas de ciência de dados permite um retorno sobre o investimento em inovação e aumenta o impacto de longo prazo com uma gestão moderna. Essas equipes podem reaproveitar as suas competências para lidar com questões além da segurança rodoviária, como gestão de pavimento, tarifação e outros serviços rodoviários, que geram benefícios indiretos, como melhoria na gestão da receita, maior sustentabilidade nos processos de manutenção de estradas e redução do tráfego rodoviário.
- VíaSegura, alinhada com as recomendações do relatório, é que a cooperação e o compartilhamento de conhecimento entre o setor privado, os governos e a cooperação internacional são essenciais para potencializar as possibilidades oferecidas pela utilização de tecnologias para a segurança viária. A disseminação e a criação de conhecimento aberto, a colaboração, o compartilhamento de experiências e a descoberta de perspectivas têm sido um legado do ViaSegura e um convite para maior progresso na região.
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