Há décadas que o governo de Ceará prioriza a melhoria da infraestrutura logística do estado como meio de alavancar empreendimentos que tragam desenvolvimento econômico e melhoria da vida dos cearenses.
A chegada da pandemia tem colocado esse desafio ainda mais no centro das prioridades do estado.
Através de um planejamento estratégico, visão de longo prazo e parcerias público-privadas, o governo vem trabalhando para o desenvolvimento das vocações regionais, como as atividades de pesca e agricultura, além da implantação de uma cultura industrial na região que permita ao Ceará se incorporar às cadeias de valor regionais e internacionais.
Ao início do anos 2000, o estado do Ceará realizou o maior investimento privado de sua história (valor superior a US$ 5 bilhões) em um grande impulso industrial sustentável – focado na viabilidade econômica, ambiental e social – para transformar os indicadores socioeconômicos do estado, de forma alinhada com o “Grande Impulso para 2030” proposto pela ONU em 2015 (CEPAL, 2020). Os esforços para o investimento na infraestrutura necessária para atrair um empreendimento de grande porte culminaram na implantação do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) – responsável pela administração do Terminal Portuário e por impulsionar o desenvolvimento econômico da região.
O CIPP, inaugurado em 2002, possui área de 13 hectares e é situado em Caucaia e São Gonçalo do Amarante, municípios a cerca de 60km da capital cearense – Fortaleza. O Complexo do Pecém possui posicionamento estratégico e, junto ao Porto de Aracaju (no estado de Sergipe), conforma o principal polo industrial e de comércio exterior do nordeste brasileiro. Segundo a CEPAL (2020), o Porto do Pecém (parte do CIPP) movimenta anualmente milhões de toneladas de matéria-prima da siderurgia, produtos industrializados acabados, placas de aço, fertilizantes agrícolas, cereais, além de frutas regionais (uma das especialidades cearenses de exportação), nacional e internacionalmente. Atualmente o Complexo Industrial congrega 63 empresas, com investimentos na ordem de R$ 28,5 bilhões que geram aproximadamente 50,8 mil empregos diretos e indiretos (CEPAL, 2020).
No que diz respeito a movimentação geral, o Complexo cearense atingiu sua melhor marca anual desde que foi inaugurado, em março de 2002.
Movimentou uma média de 1,5 toneladas por mês, resultando em aproximadamente 18 toneladas de cargas entre janeiro e dezembro de 2019. O resultado é 5% superior em comparação com o ano de 2018, quando foram movimentadas 17 toneladas.
Foi neste contexto que surgiu o maior projeto estruturante das atividades do estado, a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), que trata de dar viabilidade de negócio através da participação conjunta de atores públicos e privados em favor de novos modos de desenvolvimento. Se estruturando como âncora para o desenvolvimento do Ceará e impulsionando a instalação e operação da Zona de Processamento de Exportação (ZPE), área de livre comércio onde as empresas instaladas se comprometem a exportar 80% do seu faturamento, o que é, no mínimo, algo inédito no país.
A CSP construiu uma trajetória de mudança progressiva estruturada por meio do processo de transformação produtiva. Culminou na mudança do perfil socioeconômico e ambiental da região, permitindo a expansão nacional e internacional do mercado siderúrgico, somado à ganhos de escala e escopo que aceleram a economia e geram empregos locais. Além disso, criou novas demandas por investimentos em outros setores que complementam as atividades dos setores do aço e da exportação, como da educação, da inovação e das iniciativas de mitigação de impactos ambientais. Conceitos fortemente associados ao grande impulso industrial proposto pela ONU.
A INFRAESTRUTURA VIÁRIA: BARREIRA OU OPORTUNIDADE AO CRESCIMENTO ECONÔMICO?
Apesar de esforços por parte do Governo para a melhoria das vias, a precária condição da malha rodoviária nacional se mostra como um problema que perdura por diferentes ciclos de crescimento econômico – condiciona a produtividade, o escoamento da produção e funciona como barreira para a competitividade da indústria. São recorrentes as cobranças do setor produtivo para elevar a qualidade das estradas estaduais e federais, por meio das quais são escoadas mercadorias. Dessa forma, as obras de melhoria de infraestrutura são um passo essencial para aumentar a capacidade dos processos de importação e exportação que o CIPP já tem capacidade de fomentar.
No âmbito da parceria de longos anos com o Banco Interamericano de Desenvolvimento-BID, o estado do Ceará desenvolveu o Plano Estadual de Logística e Transporte Sustentável-PELTS e a escolha estratégica de eixos de desenvolvimentos importantes para a região.
Nesse sentido, a Rodovia das Placas (CE-576) foi idealizada para facilitar o escoamento das placas de aço produzidas pela CSP até o Porto do Pecém. O CIPP propôs a construção de um segundo portão de acesso ao porto, cuja ligação é realizada através da rodovia CE-576, reforçando a importância da conexão e da logística de transporte que a rodovia traz para a dinâmica da região. Segundo a Secretaria da Infraestrutura (Seinfra) e da Superintendência de Obras Públicas (SOP), foram pavimentados 8 quilômetros da CE-576 e o investimento é da ordem de R$ 24 milhões, com aproximadamente R$ 19 milhões sendo provenientes de recursos do BID.
No que diz respeito à movimentação específica de placas de aço da CSP (que utiliza a rodovia CE-576 pra escoar a produção até o Porto do Pecém), o que se percebe desde a conclusão das obras é que essa movimentação vem atingindo marcas históricas (como mostra a Figura 4): 10 milhões de toneladas acumuladas de placas de aço embarcadas, entre agosto de 2016 e maio de 2020, tanto para outros países quanto para outros estados do Brasil.
A Rodovia das Placas é um exemplo de investimento relativamente pequeno, em torno de US$40 milhões, que se torna chave no desenvolvimento produtivo privado de ao redor dos US$5,4B com uma geração de até 15.000 empregos diretos de qualidade, sustentáveis no tempo, dos quais até um 70% são profissionais do Ceará.
Mesmo diante de um momento delicado para todos, tanto do ponto de vista da saúde publica quanto da economia, o investimento em infraestrutura feito anteriormente está permitindo a manutenção das atividades e resiliência para o setor industrial, assim como daqueles que são complementares às suas atividades.
Somente no mês de abril de 2020 foram movimentadas 222.357 toneladas de aço pelo terminal cearense. E, segundo a Assessoria de Comunicação do Complexo Industrial e Portuário do Pecém-CIPP, até hoje o material embarcado no Porto já desembarcou em portos dos Estados Unidos (41,4%); Turquia (12,8%); Coréia do Sul (9,1%); Brasil (8,5%); Polônia (5,1%); e outros países (totalizando 23,1%). O que reforça a importância das conexões globais possibilitadas pela importação e exportação de produtos e materiais, assim como a infraestrutura local que apoia essa atividade.
Segundo a Assessoria de Comunicação do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará-IPECE, as exportações cearenses cresceram 6,42 vezes (nos últimos 23 anos), passando dos US$ 352 milhões em 1997 para US$ 2,2 bilhões em 2019. Com isso, o estado ocupa a posição 14 na pauta das exportações brasileiras (dentre as 27 unidades da federação), com 1,01% de participação – registrando ganho em relação a 2018 quando o índice era de 0,98% das exportações do país.
Sem dúvida alguma vivemos um cenário extremamente desafiador para a economia mundial. Entretanto, a Rodovia das Placas e sua conexão com o Porto do Pecém, mostra como a visão logística estratégica para priorizar os investimentos em infraestrutura produtivas, fortalece a capacidade de enfrentar crises econômicas, preservando os empregos e permitindo evoluir para modelos de crescimento sustentáveis. No sentido de fortalecer e apoiar outras industrias, garantindo a manutenção e a eficiência de atividades mesmo em momentos de crise, fomentando maior seguridade financeira e resiliência do desenvolvimento regional e nacional.
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