Na sua luta contra a transmissão do vírus Zika, ligada à microcefalia em recém-nascidos, o Governo de El Salvador tem recomendado a todas as mulheres no país a não engravidar até 2018. Recomendações semelhantes também foram feitas no Equador, Colômbia, República Dominicana, Honduras, Panamá, Brasil e Costa Rica.
Mas como evitar a gravidez em uma região com 56% de gravidezes indesejadas, a taxa mais elevada no mundo? Retardar a gravidez não é uma opção para muitas mulheres com acesso limitado a contraceptivos e que residem em ambientes onde a violência sexual é dominante. Transferir a responsabilidade para as mulheres não é a solução para o problema.
O Zika é transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti, que também transmite a chikunkuya, dengue e febre amarela. O vírus também pode ser transmitido através de relações sexuais. Os sintomas na maioria das pessoas não são graves e duram de 2 a 7 dias: ligeira febre, erupções cutâneas, conjuntivite, dores musculares e nas articulações. No entanto, em mulheres grávidas, o vírus apresenta complicações sérias para o feto, pois está associado a um aumento da microcefalia, malformações congênitas e a síndrome de Guillain-Barre.
O surto atual de Zika se espalhou para 45 países e territórios nas Américas, sendo o Brasil o mais afetado até agora com mais de 250.000 casos de vírus e 1.800 casos confirmados de síndrome congênita associada com a infecção. Diante da situação, a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu um alerta de saúde internacional assim como vários países também decretaram emergências nacionais de saúde pública.
Espera-se no início de 2017 os primeiros testes de uma vacina em seres humanos. Na melhor dos casos, a vacina ainda não estaria disponível até 2018. Muitos dos países afetados e as organizações internacionais lançaram planos de acção e de contingência para mitigar o impacto da Zika. O BID, por exemplo, implementou em conjunto com a Universidade de Nova York o projeto “Crowdsourcing inteligente-Zika”, por meio do qual há a chamada de especialistas e inovadores para que contribuamcom seu conhecimento para o desenvolvimento de alternativas para problemas específicos (se você quiser participar pode se informar aqui).
A oportunidade oferecida pelo desafio
Mas a verdade é que esta situação de emergência médica não é o único fator de risco extra que envolve as mulheres. O aquecimento global contribui para a propagação deste vírus, ao favorecer as taxas de reprodução do mosquito e aumentar a sua época de reprodução. Esse aumento na temperatura pode acelerar a propagação de outras doenças transmitidas por esses mesmos mosquitos como a malária, doença que também afeta de maneira grave mulheresgrávidas.
Para lidar com o surgimento de Zika em mulheres, a OMS recomenda um forte apoio por parte dos governos para facilitar o acesso a serviços de saúde reprodutiva, o que implica ter acesso seguro, eficaz, acessível e aceitável para a contracepção, sem discriminação. O acesso à contracepção atualmente depende dos níveis de pobreza e o acesso pode variar entre 47% e 7%, dependendo das áreas e bairros da região.
Ele insiste em que as mulheres estão devidamente informados sobre medidas de protecção para evitar picadas de mosquito e os riscos que poderiam, eventualmente, ser expostas.
Esta emergência pode ser uma oportunidade para os governos para estabelecerem sistemas adequados de planejamento familiar na região. Não só para atacar focos de Zika, mas também para melhorar a prestação de serviços de saúde reprodutiva em países onde eles são praticamente inexistente.
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