Por Daniela Philipp
Em meu último post, falei da importância das habilidades – tais como o otimismo, a resiliência e a persistência – para que as crianças tenham sucesso na vida. Não nascemos com essas habilidades, mas isso não é algo que não se possa mudar. Tais competências são formadas com as primeiras experiências ao longo de nossas infância e adolescência. Neste post, quero refletir sobre a seguinte questão: Se existe uma janela de oportunidade durante a qual a personalidade de uma pessoa é moldada para que se tenha sucesso durante a vida, como tirar o maior proveito deste período?
Com certeza esta é uma questão desafiadora para os pais e, obviamente, não há uma receita a seguir para formar crianças bem sucedidas. Porém, aumentam as evidências científicas de que algumas pequenas ações, como abraços e mimos carinhosos, têm impacto extremamente positivo sobre as crianças.
Em uma coluna dominical para o The New York Times, o articulista Nicholas Kristof falou sobre essas conclusões. Por exemplo, pesquisas com ratos de laboratório mostraram que os filhotes que foram lambidos e acariciados por suas mães estão mais bem preparados para lidar com o estresse. Eles também tiveram melhor desempenho ao tentar encontrar a saída de labirintos. O mais curioso, no entanto, é que a anatomia dos cérebros das cobaias lambidas e acariciadas difere da daquelas que não receberam o mesmo tratamento.
Em outro post publicado em nosso blog, Florencia López Boo tratou de conclusões similares: os filhotes que cresceram sem carinho são os que, mais tarde, demonstram níveis mais elevados de estresse e emotividade negativa.
Se tais achados forem verdadeiros também para os humanos, isto significa que abraços e mimos – o equivalente em nossa espécie às lambidas e carícias das cobaias – podem preparar as crianças para a vida no longo prazo. E as evidências mostram que esse é o caso. Kristof menciona um interessante estudo de longo prazo, conduzido por pesquisadores da Universidade de Minesota, segundo o qual o apoio dos pais durante a infância é tão importante quanto o coeficiente intelectual (Q.I.) para determinar se uma criança terminará o ensino médio.
O Premio Nobel de Economia James Heckman também defende que o ambiente familiar durante a primeira infância é um importante indicador das habilidades cognitivas e sócio emocionais no futuro; e que a falta de apoio, por parte dos pais, pode prejudicar as conquistas dos filhos.
Famílias pobres e menos favorecidas têm mais dificuldades para receber apoio durante a criação de seus filhos, o que pode resultar em práticas prejudiciais de criação. Trata-se do que Rand Conger, da Universidade da Califórnia em Davis, descreve como “Modelo de Estresse Familiar”. De acordo com o modelo, dificuldades econômicas podem exercer impacto negativo sobre as emoções, relacionamentos e comportamento dos pais, afetando os esforços na criação dos filhos. Por conta disso, cresce o risco de que os filhos tenham problemas para desenvolverem-se, o que consequentemente tem impacto no desempenho econômico e profissional.
Não é nenhum segredo que ser pai não é tarefa fácil, independentemente da situação financeira. Mas para os mais pobres costuma ser mais difícil atender às necessidades dos filhos. Por essa razão, esses pais deveriam receber apoio, desde o princípio, para aprender o que é essencial no desenvolvimento de uma criança.
Programas de desenvolvimento na primeira infância têm a grande responsabilidade de construir habilidades necessárias para a criação dos filhos e ajudar as famílias a entender a importância da qualidade do relacionamento diário que têm com seus filhos.
Por exemplo, esses programas deveriam informar aos pais sobre a importância de pequenos gestos, como abraços carinhosos. Eu gostaria de saber mais a respeito de programas na América Latina e Caribe que trabalhem com famílias sobre esta questão. Fica aberto o convite!
Daniela Philipp é um consultor na Divisão de Saúde e da Protecção Social do BID. Daniela trabalha nas áreas de saúde, nutrição e desenvolvimento infantil.
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