Judith Morrison*
O início de ano geralmente é uma época de reflexão e definição de propósitos. Talvez alguns já tenham se esquecido de seus propósitos ou estejam em busca de novos. De qualquer maneira, quero aproveitar esse momento para compartilhar uma das minhas resoluções para 2018. No BID, nossa missão é trabalhar “melhorando vidas”. Esse ano, meus colegas e eu queremos dar mais ênfase em trabalhar “melhorando todas as vidas”. Pensando nisso, levantei algumas perguntas sobre como fazer com que a formação de políticas de desenvolvimento seja mais inclusiva. Para começar, pergunto-me se todos nós nos encaixamos no futuro que estamos construindo. Ou seja, estamos ampliando as oportunidades para outros? Estamos aproveitando ao máximo o potencial da tecnologia para ultrapassar barreiras? Estamos ouvindo aos demais?
Encontrar as lacunas para expandir as oportunidades
Sabemos que a pobreza contínua é um grande desafio para a América Latina, onde certos grupos se mantêm consistentemente na base da distribuição econômica. Para criar soluções, é crucial identificar e entender as variáveis étnicas, raciais e de gênero por trás do problema. Um obstáculo que vemos com frequência a nível regional é a dificuldade em se identificar onde estão as lacunas.
A recente publicação do BID, “Contando Etnia e Raça: Harmonizando dados étnicos e raciais na América Latina (2000-2016)”, oferece um quadro metodológico que permite identificar, de maneira simples e padronizada, quais são os grupos étnicos raciais existentes na região, por país, e conhecer melhor suas condições de vida.
Também existem modelos de tecnologia promissores para o processamento de estatísticas de desenvolvimento inclusivo. O sistema SINAPIR/DataSEPPIR, desenvolvido em conjunto pelo BID e o governo federal do Brasil, utiliza informações do censo, pesquisas domiciliares e bancos de dados administrativos para analisar indicadores de políticas públicas, por raça e etnia, usando ferramentas de mapeamento do Google Earth. Já o estudo das 500 maiores empresas do Brasil identifica as variáveis e desequilíbrios dentro das principais empresas do país, em questões de gênero, cor/raça, faixa etária, escolaridade e presença de pessoas com deficiência.
Ouvir aos demais, o melhor ponto de partida
Há alguns anos, com o objetivo de escutar melhor as perspectivas locais, o BID apoiou um diálogo entre prefeitos da Colômbia. Dali nasceu o SomosAfro.org, uma plataforma para a troca de ideias promissoras e de boas práticas para a formulação de políticas públicas inclusivas voltadas a grupos vulneráveis. O SomosAfro possui recursos interativos para que as comunidades possam propor soluções diretamente aos governos locais. Os governos participantes, por sua vez, podem dialogar com representantes locais sobre essas propostas. Iniciativas como essa são importantes porque oferecem protagonismo às pessoas, historicamente excluídas, na formulação de políticas públicas que as afetam.
Para aqueles que têm o privilégio de trabalhar na América Latina e no Caribe, é indiscutível que sua maior força está em sua grande diversidade. Os povos indígenas e afrodescendentes representam cerca de 40% da população da região e as mulheres são maioria em todos os países. O melhor entendimento dessa diversidade sela a promessa de se promover um grande potencial de crescimento inclusivo que possa impulsionar o desenvolvimento da região para as futuras gerações. Convidamos todas as partes a unirem-se em um esforço comum para melhorar vidas, todas as vidas, em 2018.
Quais outras perguntas deveríamos fazer? Você conhece alguma ferramenta que possa impulsionar iniciativas de desenvolvimento inclusivo? Adoraríamos ouvir seus comentários.
Conheça mais ferramentas e iniciativas para a Inclusão aqui.
*Judith Morrison é a assessora principal da Divisão de Gênero e Diversidade do BID. Com mais de 20 anos de experiência em desenvolvimento internacional, foi diretora regional da Fundação Interamericana, diretora executiva entre Agências na América Latina e diretora de programa do Diálogo Interamericano.
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