De mães desempregadas a trabalhadoras em canteiros de obra
“Eu estou emocionada por ter conseguido isso. Para mim, para a minha carreira, é muito importante essa formação.” As palavras de Rosemary Nericy Dantas Silva, recém-certificada no curso de Pintora de Obras Imobiliárias, ecoam o sentimento de realização que permeou a noite do 12 de setembro de 2024 na Escola Estadual Leonel Brizola, em João Pessoa. O evento “CBR para Elas”, promovido pela Coordenação Social da Unidade Executora do Programa João Pessoa Sustentável, reuniu mulheres de diversas comunidades no Complexo Beira Rio (CBR) para celebrar um marco importante na trajetória de cada uma delas. O Complexo Beira Rio abrange as comunidades São Rafael, Tito Silva, Vila Tambauzinho, Brasília de Palha, Cafofo Liberdade e Padre Hildon Bandeira, localizadas ao longo da margem do Rio Jaguaribe, e as comunidades Santa Clara e Miramar, localizadas em morros.

Rosemary, da comunidade Padre Hildon Bandeira, não escondeu a alegria ao exibir seu certificado. “Eu peço e acredito que a Prefeitura continuará com esses projetos,” acrescentou, demonstrando sua esperança de que outras mulheres também tenham a oportunidade de transformar suas vidas por meio de programas semelhantes. O evento foi mais do que uma cerimônia de certificação, foi um testemunho do impacto das iniciativas voltadas para o empoderamento feminino do Programa João Pessoa Sustentável, com uma série de atividades que visam conectar mulheres, capacitar habilidades e fomentar oportunidades.
Joelma Medeiros, coordenadora social do programa, explicou a importância do “CBR para Elas”: “Temos 70% do público da poligonal de risco do complexo Beira Rio formado por mulheres chefes de família. Muitas vezes, essas mulheres são quem mantém o lar. Portanto, investir em habilidades para que essas mulheres se empoderem e mudem suas trajetórias é fundamental”, disse.
No Complexo Beira Rio, das 2.108 familias residentes, dois terços são chefiadas por mulheres, e entre elas, mais da metade estao desempregadas – ou seja 363 segundo os registros mais recentes. Esses dados reforçam a importância da capacitação e da geração de oportunidades de emprego e renda para a emancipação feminina no território.

O curso de Pintora de Obras Imobiliárias é organizado pelo programa em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem (Senai). Adriano Lins, diretor do Senai João Pessoa, destacou a importância da iniciativa: “Quero parabenizar as guerreiras que conseguiram concluir o curso. Fechamos parceria para mais de 6 turmas, então, só depende de vocês”. Além deste curso, o Plano de Desenvolvimento Territorial do CBR prevê a abertura de mais turmas para cursos de pintora, eletricista e assentadora de cerâmica. As atividades foram escolhidas de acordo com a demanda do mercado local, em particular as necessidades de contratação expressadas pelas construtoras contratadas pelo programa para as primeiras obras.
O impacto do curso na empregabilidade das participantes já é concreto, a exemplo da Maria Joceline da Silva Marques, assistente social, moradora da comunidade Brasília de Palha. Ela foi contratada pela construtora Uchôa, uma das empresas que estão à frente da construção dos conjuntos habitacionais do programa. “Arrumar trabalho na área que a gente se formou é muito gratificante,” contou Joice, como é mais conhecida, ressaltando o valor das políticas de capacitação que favorecem a contratação de mão de obra local. Outras 14 mulheres do CBR já foram absorvidas por construtoras a partir das iniciativas do programa. Isso ilustra o desejo da Prefeitura e do BID de aproveitar o mercado de trabalho criado pelas próprias obras do programa para promover a empregabilidade feminina, e de moradores em geral, começando pelo setor da construção civil.
A publicação Evidências sobre políticas de mercado de trabalho e implicações para o Brasil: qualificação profissional aborda como a qualificação profissional é um elemento importante para que trabalhadores alcancem empregos de qualidade. No entanto, no Brasil, assim como em outros países da América Latina e Caribe (ALC), muitas pessoas carecem de formação adequada e não desenvolvem habilidades requeridas pelo mundo do trabalho.

Mais frentes de trabalho para mais impacto na comunidade
Além destas capacitações no setor de construção civil, a equipe social do Programa João Pessoa Sustentável está comprometida em ampliar parcerias que promovam a inclusão das mulheres no mercado de trabalho. Um exemplo importante é a colaboração com a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) por meio do projeto “Mulheres Mil”, que oferece formação para mulheres a partir dos 16 anos em situação de vulnerabilidade econômica e social. As moradoras do CBR têm acesso em 2024 a um curso de manicure e pedicure, e em 2025 a novas opções como cuidador(a) de idosos e inclusão digital.
O programa também está atuando para a inclusão de outros perfis vulneráveis, como jovens da comunidade ou chefes de família de baixa renda. Por exemplo, após busca ativa e apoio aos candidatos interessados, 30 moradores do CBR foram contratados pela empresa Reurbaniza, que foi contratada para operacionalizar a regularização fundiária da área, como cadastradores. Outro exemplo:15 jovens do CBR foram inseridos ao programa Jovem Aprendiz do SENAI, e trabalham atualmente como assistentes administrativos em empresas do município.
Criado para reduzir a desigualdade urbana e modernizar o planejamento urbano e a prestação de serviços, o Programa João Pessoa Sustentável tem um investimento total de US$ 159,4 milhões. Desde seu desenho, colocou no centro da sua concepção a inclusão de gênero como um fator crucial para a equidade social, mediante a capacitação inicial das equipes da Prefeitura (ver Auditoria de segurança de gênero e caminhabilidade: o novo programa de João Pessoa com olhar de inclusão).
Um dos resultados concretos desta preocupação é a linha de arquitetura inclusiva adotada pelo programa nos projetos desenvolvidos para os conjuntos habitacionais do Complexo Beira Rio (ver Arquitetura de Gênero em Projetos de Habitação de Interesse Social: O Caso de João Pessoa), que visam criar ambientes urbanos que considerem as necessidades específicas de grupos vulneráveis, garantindo a segurança e o bem-estar de mulheres, idosos e outras populações.
Outro exemplo claro dessa abordagem é o projeto João PessoaS – Cidade Inclusiva e Diversa (ver Um novo olhar sobre inclusão de gênero e diversidade para a Guarda Civil Metropolitana e agentes públicos em João Pessoa), que promoveu a capacitação de mais de 300 agentes públicos, incluindo guardas civis metropolitanos, sobre questões de gênero, raça, deficiência e diversidade sexual, e continua até hoje a sensibilizar sobre estes temas mediante seus agentes multiplicadores de saber.
Para saber mais sobre o tema de inclusão de gênero nos espaços urbanos, não deixe de acessar o Guia prático e interseccional para cidades mais inclusivas do BID.

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