Quando falamos sobre a Amazônia, tendemos a ponderar sua importância apenas como lugar que abriga quase metade das reservas de carbono natural do mundo. No entanto, uma análise detalhada mostra que existe também um potencial econômico subjacente para catalisar a conservação e a restauração florestal, com atividades de desenvolvimento econômico e social sustentável, por meio da diversificação das exportações compatível com as florestas.
É o caso de algumas comunidades, associações e pequenas empresas localizadas nos estados amazônicos brasileiros (a “Amazônia”), que já produzem e exportam 60 produtos compatíveis com a floresta, como pimenta-do-reino, castanha-do-Pará descascada, bexiga natatória de peixe, palmito, cacau e abacaxi fresco.
Conforme explicado no projeto Amazônia 2030 (Coslovsky, 2021), cuja metodologia permitiu identificar o potencial de exportação de produtos compatíveis com a floresta como alternativa para promover o desenvolvimento regenerativo e de baixo carbono, esses produtos são provenientes da extração florestal não madeireira, sistemas agroflorestais, pesca tropical e piscicultura e fruticultura tropical.
Esse termo também indica produtos frescos ou minimamente processados, típicos de regiões de clima tropical úmido e que podem ser produzidos de forma ecologicamente correta, sem gerar desmatamento ou expandir a fronteira agrícola.
O Setor de Integração e Comércio do BID, com o apoio do professor Salo Coslovsky, aprofundou pesquisas anteriores para descobrir novas oportunidades nos estados brasileiros.
Oportunidades de crescimento
A região já começou a fazer alguns progressos. Entre 2017 e 2019, as exportações dos 60 produtos compatíveis com as florestas geraram US$ 295 milhões por ano para a Amazônia. Pode parecer um número significativo, mas a oportunidade é ainda maior: nas exportações mundiais, esses mesmos produtos geram US$ 160 bilhões por ano.
A região amazônica tem uma participação relativamente pequena no mercado em comparação com a produção mundial, não apenas levando em conta toda a cesta de produtos compatíveis com a floresta, mas também em praticamente todos os produtos individuais, com participações que variam de 7% no caso do mercado de pimenta preta, a 0,01% no mercado de cacau e 0,002% no mercado de pimenta fresca.
A única exceção é no mercado de castanha-do-pará descascada, no qual a participação da Amazônia é de 50%. No entanto, uma análise mais detalhada revela que as empresas dessa área dominam a estrutura menos significativa e sofisticada de uma cadeia de valor mais ampla.
O papel dos estados brasileiros
Análises recentes mostram que a capacidade de exportar difere consideravelmente entre os estados da Amazônia brasileira. Por exemplo, empresas sediadas no Pará geram US$ 256 milhões por ano exportando 43 dos 60 produtos compatíveis com a floresta para 89 países (dados de 2017-2019). Por sua vez, Rondônia obtém apenas US$ 3 milhões com a exportação de 11 produtos. Essa heterogeneidade sugere que nem todos os estados enfrentam os mesmos desafios na expansão de suas exportações.
Por exemplo, o Pará deve manter ou expandir sua liderança, enquanto Rondônia deve desenvolver suas capacidades em todos os âmbitos. Em outros casos, a diferença entre os estados é mais sutil, mas não menos significativa. Como exemplo, tanto o Amapá quanto o Amazonas exportam seus produtos para países de renda relativamente alta. No entanto, o Amapá exporta grandes volumes de alguns produtos para poucos destinos, principalmente polpa de açaí para os EUA. Por esta razão, o seu principal desafio é diversificar seu portfólio e chegar a mais países sem sacrificar a qualidade. Por outro lado, os volumes exportados pelo estado do Amazonas são menores, mas compostos por vários produtos diferentes, vendidos para um grande número de países. O desafio neste caso é ampliar os volumes dos produtos já exportados.

Ao analisar os produtos exportados por cada estado, também identificamos um grau significativo de especialização territorial. É razoável supor que parte dessa especialização é produto de diferenças geográficas e ecológicas entre os estados. Contudo, é provável que decorra em grande parte de barreiras à difusão de técnicas e conhecimentos entre os Estados, bem como de outros aspectos do acesso ao mercado.
Como desbloquear o potencial de exportação
A análise recente mostra que a Amazônia já sabe produzir alguns produtos que podem ser compatíveis com florestas e tem experiência e técnica suficientes para competir com sucesso no mercado mundial. Também confirma que esta região mal arranha a superfície do seu potencial e que existem diferenças e disparidades substanciais entre os Estados.
Para desbloquear esse potencial, é importante aprofundar a análise das causas profundas da situação em que essa região se encontra. Essa questão pode estar relacionada, por exemplo, com baixos níveis de desenvolvimento de capacidades (em termos de educação e competências), elevados custos associados ao acesso ao mercado (como banda larga, eletricidade, transportes e logística), disponibilidade limitada de serviços relacionados com a exportação (como os de capacitação, verificação/certificações, embalagem e rotulagem) e informalidade.
No entanto, muitos dos fatores produtivos necessários já estão disponíveis na própria região. O desafio é mobilizá-los de forma eficiente, preservando a sustentabilidade ambiental. Em suma, a promoção sustentável de produtos compatíveis com as florestas poderia ajudar a impulsionar a sustentabilidade ambiental. Também poderia proporcionar um melhor padrão de vida para os pequenos agricultores e as populações locais em uma região diversificada povoada por mais de 35 milhões de pessoas.
Texto disponível em espanhol e inglês, no blog Más allá de las Fronteras/Beyond Borders
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