Natália Laguyas*
Ao redor do mundo as cidades estão “recriando” algumas de suas áreas urbanas; reposicionando as áreas sub-utilizadas de suas comunidades através do investimento em infraestrutura, atração de certas empresas e instituições, o desenvolvimento da força de trabalho e conectando as empresas de menor tamanho com mercados e capital. Antigas zonas industriais e outras que antes eram parques industriais estão sendo “refeitas” gerando assim estes distritos de inovação, que respondem a preferência de trabalhadores e empresas por ambientes mais urbanos e vibrantes que os permitam desenvolver suas redes profissionais e empresariais, respectivamente.
O que são e o que oferecem os innovation districts?
Segundo Bruce Katz e Julie Wagner de Brookings, os distritos de inovação são áreas geográficas onde instituições e companhias líderes em seus segmentos atuam como âncoras gerando um cluster que conecta startups, incubadoras e aceleradoras. Nos casos norteamericanos, essas instituições são desde centros de investigação vinculados às universidades até centros hospitalares de vanguarda em pesquisa médica, como o caso da University City na Filadelfia. A característica principal dos distritos de inovação é que são fisicamente compactos, acessíveis e conectados, e também oferecem espaços de habitação, escritórios e área comercial.
Desta forma, os distritos de inovação proporcionam uma base para a criação e expansão de empresas e postos de trabalho, ajudando as empresas, os empreendedores, as universidades e os investidores a colaborar e assim co-produzir novos produtos e serviços.
Em situações de uso ineficiente do espaço apresentam um potencial para densificar o espaço urbano. Também geram recursos para a cidade através de impostos que podem ser canalizados para a provisão de mais e melhores serviços para a população. E, frente a crescente desigualdade social nas cidades, oferecem a possibilidade de expandir o emprego para populações locais e a oferta de moradia, considerando a forte especulação imobiliária que pode se provocar com essas intervenções.
São uma estratégia aplicável para a transformação urbana e econômica de nossas cidades?
Cidades como Buenos Aires, Medellín, Bogotá, Guadalajara, as Cidade do México e Panamá já estão implementando esta estratégia de transformação urbana e econômica atraindo setores compatíveis com a vida urbana.
No caso de Buenos Aires, desde 2008, a Cidade começa o estabelecimento de distritos para uma série de indústrias estratégicas que tem um alto potencial de desenvolvimento econômico e emprego na cidade. Um destes distritos é o de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) e o “Distrito Tecnológico”no bairro de Parque Patricios. Dentro deste, a cidade de Buenos Aires impulsiona a atração de negócios internacionais vinculados às TICs e o desenvolvimento de um espaço onde convivem a identidade cultural existente com as empresas TIC. Além do estabelecimento de benefícios e incentivos financeiros, a cidade promoveu com outras obras a revitalização desta zona da cidade, tradicionalmente relegada, e sua nova “localização” no mapa da cidade. Também, foram feitas obras para recuperar espaços públicos onde as interações espontâneas podem se dar e tem se trabalhado em ampliar a conectividade desta zona com o resto da cidade.
Como podemos apoiar os distritos de inovação nas cidades?
O estudo de Katz e Wagner (2014) (cuja apresentação está disponível aqui) identifica alguns elementos chave:
- construir uma rede de liderança colaborativa, que reúne líderes de instituições chave, empresas e setores que regularmente e formalmente cooperem com o desenho, implementação, promoção e governança do distrito. Além disso, para poder atender a todas as vozes, é também relevante contar com os líderes dos grupos residentes.
- estabelecer uma visão de crescimento, proporcionando um caminho claro que contemple da mesma forma as dimensões econômicas, físicas e sociais no curto, médio e longo prazo. Esta visão deve aproveitar os ativos da área da cidade, tais como os clusters econômicos, as principais instituições locais e regionais e as empresas, a localização e outros atributos culturais. Tudo isso não vai acabar com os clusters à força. Ou como Nate Storring e Meg Walker assinalam: “começar com a gente e os lugares que existem”.
- buscar o talento e a tecnologia, tendo em conta que os trabalhadores educados e capacitados e a infraestrutura e sistemas sofisticados são os motores pares da inovação. Para o qual são essenciais estratégias de atração, retenção e crescimento para esse talento assim como criar uma plataforma de alta qualidade para empresas inovadoras.
- promover um crescimento inclusivo, usando o distrito da inovação como uma plataforma para regenerar os bairros em dificuldade, assim como a criação de oportunidades de educação, emprego, e outras para os residentes dos bairros de classe baixa possam participar da economia da inovação ou de outros trabalhos que geram crescimento inovador e o efeito multiplicador dos empregos em alta tecnologia.
- melhorar o acesso ao capital para apoiar a ciência básica e a pesquisa aplicada; a comercialização da inovação; o empreendimento (incluindo incubadoras e aceleradoras); o setor imobiliário, industrial e comercial (incluindo novos espaços de colaboração); a infraestrutura de energia, serviços públicos, banda larga, e transporte; a educação e centros de formação; e o ecossistema de inovação.
Este post foi originalmente publicado no Blog Trends
*Natália Laguyas é especialista do Fundo Multilateral de Investimentos na área de desenvolvimento econômico local em áreas urbanas.
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