Vanessa Matos Tudela*
Líderes climáticos do mundo inteiro reuniram-se há poucos dias no Rio de Janeiro para oferecer soluções para a crise global do clima – o encontro coincidiu com um dos momentos mais emblemáticos da história de São Paulo, que atravessa a pior crise hídrica de sua história. Eu fui uma das 600 participantes de 55 países que estiveram no Rio para participar do 26º Climate Reality Project, #CRinBrazil, um treinamento de liderança promovido pelo ex-presidente dos EUA Al Gore.
Desde de 2006, ano em que foi criado, o Climate Reality Project transformou-se em uma rede global de liderança que direciona as conversas sobre o clima. No Rio, Gore conduziu as discussões e treinou os participantes para que eles desenvolvam soluções que ajudem na prevenção de grandes impactos climáticos como a seca em São Paulo e os incêndios florestais em Valparaíso, no Chile.
Mas qual foi o papel do setor privado durante o evento? Gore traçou um paralelo interessante sobre a evolução de dois tipos de tecnologia e as potencias implicações sobre o setor de energia, convidando a plateia a analisar o papel do setor privado como catalisador de transformações no mercado. O que o dramático e rápido crescimento no uso de celulares e as atuais condições da tecnologia de painéis solares têm em comum? E quais as lições da história recente sobre nossa prontidão para lidar com a mudança climática?
Como já sabemos, o uso de celulares cresceu de modo sem precedentes entre 1980 e 2000; a tecnologia de painéis solares também apresentou crescimento. Mas qual o elo entre esses dois mercados e seu crescimento exponencial?
Gore listou três similaridades:
1) O custo da tecnologia caiu significativamente
2) A qualidade da tecnologia continuou melhorando de forma dramática em um curto período de tempo e
3) A decisão de compra ou a decisão de investir na tecnologia tornou-se menos a decisão de uma concessionaria e passou a ser tomada cada vez mais por indivíduos.
Existe uma relação direta entre a alta das temperaturas e o aumento do consumo de energia por um lado; do outro, há a questão da lucratividade das companhias. No Brasil, investimentos em energia limpa já não são mais vistos apenas como estratégia de mitigação de risco, mas também como medidas proativas que ajudam a prever e reduzir os custos futuros com energia.
Ao longo do treinamento, a energia solar foi apresentada como uma solução-chave para o desafio energético; atualmente, ela responde por menos de 1% da capacidade elétrica brasileira, apesar de o Brasil ser uma das nações com maior potencial para geração de energia solar no mundo.
O país enfrenta o desafio de encontrar soluções de baixo carbono para atender à crescente demanda por eletricidade já que tanto o consumo quanto os preços continuam subindo. Oitavo maior consumidor de energia do mundo, e maior da América Latina, o Brasil é muito dependente da hidroeletricidade. As mudanças climáticas e seus impactos, como a seca sem precedentes em São Paulo, exigem que o país promova a diversificação de sua matriz energética.
Durante o treinamento, ficou claro que a energia solar pode ser uma das muitas soluções para o Brasil enfrentar seus problemas climáticos. Investimentos em tecnologias acessíveis e confiáveis podem resultar em um caminho rumo a uma economia sustentável.
* Vanessa Matos Tudela é consultora do Departamento de Setor Privado do BID.
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