O desencontro que existe entre a demanda e a oferta de mão de obra qualificada é um problema verificado em todos os países da América Latina, onde 90% das empresas não encontram trabalhadores com as habilidades necessárias. Para tanto, mais investimentos em sistemas de formação para o trabalho compatíveis com as demandas do mercado se mostram essenciais para que os países, incluindo o Brasil, possam encaixar as peças deste quebra-cabeça.
Foi exatamente isso o que a Coreia do Sul fez no início da década de 70, num cenário ainda marcado pelo pós-guerra. Hoje o país é uma das 10 principais economias do mundo, fornecedora mundial de tecnologia e inovação. O país decidiu que queria ser uma potência tecnológica e sua estratégia foi dar início a uma política de adequação de vocação e habilidades dos trabalhadores coreanos às necessidades do mercado nacional e internacional, ou seja, investimento massivo no fortalecimento do capital humano.
Em visita ao Brasil, o presidente do Instituto Global de Transferência de Habilidades da Coreia (GIFTS, na sigla em inglês), Dr. Eom Joon-Chul, explicou como chegaram lá. Primeiro, definiram a política de Educação Técnica Vocacional e Treinamento (TVET na sigla em inglês), que instaurou centros de treinamentos para trabalhadores, construídos com financiamento internacional. As grandes empresas ficaram responsáveis por capacitar seus empregados e a participação no programa era mandatória.
Para compor a equipe de instrutores, o país criou centros especiais de treinamento, que foram recebendo fortes investimentos ao longo dos anos. Fizeram parcerias com instituições tecnológicas e acadêmicas da Alemanha, e enviaram centenas de profissionais ao exterior para que aprendessem e replicassem o conhecimento ao retornarem ao país.
Na década de 80, com uma indústria que substituía cada vez mais a mão de obra pelos sistemas tecnológicos, o país ampliou o foco dos treinamentos a fim de gerar mão de obra multifuncional. Os trabalhadores passaram a ser multi-qualificados, fazendo com que se mantivessem atrativos para o mercado.
À medida que o país percebia maior crescimento econômico, voltava a investir no próprio sistema. Nos anos 90 houve uma grande reforma do sistema educacional público que ganhou mais autonomia para as mudanças curriculares no caso do ensino técnico, assim como conquistaram a universalização do ensino superior.
Nos anos 2000, começaram a realizar parcerias com escolas de negócios para profissionalizar a força de trabalho e foi dado especial apoio às pequenas empresas, por meio de consórcios de treinamentos. Em 48 anos, o país multiplicou o Produto Nacional Bruto (PNB) 32 vezes, como mostra o gráfico a seguir. O PNB per capita cresceu 276 vezes no período.
Fonte: apresentação TVET
Hoje a Coreia é referência em eletrônica, telecomunicações, produção de automóveis, produtos químicos, construção naval e aço, entre outras vocações, e apresenta uma taxa de desemprego de 3%. Antes de toda esta revolução o país era basicamente agricultor, com poucas indústrias. Algumas destas ideias podem ser úteis para construir políticas públicas em formação para o trabalho em nossa região, adequando-se a cada realidade, força de trabalho e demandas específicas.
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